sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Preciso me encontrar

Merecida homenagem à Candeia, pela supremacia que tal letra consegue atingir. Esteja feliz, esteja triste, existe sempre uma razão pra transformar essa criação em uma composição certeira da vida.
Que os momentos sejam traduzidos com a melhor das interpretações.

"Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar...

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar...
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar..."

Verdade

Busco musos.
Corro atrás de amores escusos
De fato, não amo ninguém
Apenas idolatro o que me convém.
Sem me preocupar com nada,
Procuro no desdém
A razão pra continuar
Amando sempre em vão.


(original: 06/11/2007)

Essa é de 08/01/2008

Eu que sempre poetizei em saliva
Os versos que nunca escrevi
Transcrevo a tristeza que me ativa
Pelos poemas tolos que esqueci.


Não sei onde estava a caneta
O papel branco ficou estático
Mas eu bem lembro da faceta
De um coração nada apático.


Hoje meus versos estão digitais
Não que eu os ache assim mais belos
Mas talvez desse modo eu os sinta vitais
E continue a construir seus elos.


Numa folha qualquer a esmo
Volto a versar versátil
Um pensamento mesmo.


Na linha da inconseqüência
Ignoro o poder da dor
Esvaiu-se a consciência.

Solução

Preso,
Amarrado,
Castigado,
Sentenciado.
Devo ter endoidado.
Preciso fugir de mim.


(original: 31/01/2008)

Efeito

Defeito é
Termos.
Feitos um
Para o outro é
Inegável.
Não há feito.
Maior que o defeito,
É achar que nesse leito
Não é possível sonhar.
Enquanto me deleito,
Um feito espera
O defeito passar.
Com todo respeito,
Mesmo o mais perfeito,
Ninguém sabe amar.

Às vezes

Não sei porque
Eu teimo em dizer
Que vai ser tudo perfeito
Quando eu crescer.

Essa minha ilusão
Que brinca de sentir
Anda mesmo sem respeito
O que vamos fingir?

Sem uma sombra
Mantenho a dúvida
Dessa causa com efeito.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Seu som

Na sonoridade das suas letras
Encontro o fonema ideal:
O que eu quero.
Sem aliterações.
Sem alterações.
Não sei bem o que ocorre...
O som invade a minha boca
E percebo que já não posso mais.
Já está na minha língua
Já é parte de um alfabeto particular.
A minha saliva degusta cada sílaba...!
Como um sentimento sonoro
Apenas enaltecido
E que só é reconhecido
Quando chamo, amo, clamo seu nome.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Um e outros

Para um escritor, nada pior que o silêncio para exprimir o que mesmo boas palavras são incapazes de.
A outros uns, apenas poucos raros e leves suspiros.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ratos

Não seria minha?
A culpa por crer, por esperar, por querer demais...
Por acreditar na palavra alheia,
Por confiar em verdades ditas em falsidade?

Não seria minha.
Por uma enganação
Por um fingimento,
Uma decepção trazida pela covardia.

Mas eu sei da minha culpa.
Eu sei.

Meu mundo é feito por homens.
Meu mundo é feito de ratos.
No entanto, roídas,
Sempre e culpadas,
Somente as minhas.

Frase pronta II

O seguro morreu de velho.
E sem histórias pra contar.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Entrega

Escrevi mais de um milhão de cartas...
Mas minha caixa do correio está vazia.

Um

Uma sintonia.
Um denominador.
Uma semântica.
Um amor.
Um lado.
Um verso.
Uma saudade.
Uma frase.
Uma espera.
Uma traição.
Uma culpa.
Uma memória.
Uma perda.
Um desejo.
Uma paixão.
Um sempre.
Um de muita coisa.
Um de tudo.
Mas um só, nunca são dois.

Novidade

Nunca achei que existisse essa sensação:
Estou engolindo a seco.

Frase pronta

O seguro morreu de velho.
Mas não aproveitou a vida como poderia.

Mal-me-quer

Em apenas umas palavras
A racionalidade sobressai
Através da ajuda de um medo
Que pra uns chega sempre mais cedo.

Eu que não titubeio
Retomo agora meu presente
Corro de um atraso passado
De uma dor que já havia abandonado.

Na esperança da loucura
Invisto novamente na própria
Mesmo ao consolar a morte
De um amor que cedeu à sorte.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Pra não dizerem por aí que eu esqueci deste blog

Dificilmente utilizo outros em meus lábios,
No entanto, no verso que gostaria de ter agora,
Não encontro palavras...
Pra não deixar o vazio ainda maior
Empresto sílabas e contradições.
Eu não poderia ignorá-las.


Assumo a tcholisse:

"No Dia em que ocê foi embora, eu fiquei
sentindo saudades do que não foi
lembrando até do que não vivi,
pensando em nós dois"
(Lenine e L. Queiroga)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Uma xícara de chá

Diz o meu professor de filosofia do cinema que a realidade é falsa. Tudo é falso. Não existe um único conhecimento que seja verdadeiro, a não ser o sobre sua própria falsidade. As imagens e nossa percepção são tão difusas...Mas se a vida fosse uma grande profusão de realidades sem fundamento, os dias não passariam de brincadeiras de criança.

- Carminha, você gostaria de uma xícara de chá?
- Mas não há nada dentro.
- Finge que tem.

É. Eu poderia fingir que há alguma coisa dentro. Assim como a Carminha poderia servir-se de um chá de qualquer erva do planeta, existente ou imaginária. Eu poderia acreditar que existe vida após a morte, que existe amor e que as palavras não são apenas fonemas e encontros vocálicos. Eu poderia. A Carminha poderia.

Mas de que me bastaria viver acreditando em brincadeiras verídicas? Na minha realidade não há tempo para que a ilusão se esparrame. O chá derramado pode queimar.

Há quem diga que é em sonho que se encontra a verdadeira falsidade. Que a verdade palpável já transcendeu ao limiar de sua própria consistência. Portanto, seria só ao aceitarmos a falsidade como verdadeira que ela teria realmente seu reconhecimento e sua capacidade de sublimação.

Eu, no entanto, ainda sofro as agruras da verdade humana, do concreto, do asfalto. Na dureza de meu físico, percebo que mesmo quando creio em tanta falsidade, a verdade me puxa ao chão como força centrípeta à sua órbita.

Não há mais o que temer. Não há mais o que tomar. Derramei tudo. As lágrimas, falsas que só, molharam minhas verdades.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Pulo

No primeiro plano
Do trampolim, um salto.
Não me descalço.
Apenas observo insano.
Não adianta trama
Nas raias ao longo.
Mas não ignoro...
Isso é comédia, ou drama?

Gosto

...se ao menos os meus sais fossem mais doces...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Blá blá blá

Dúvida inóspita
De não saber o que dizer
Enquanto a crença oscila
Em verbetes graves.

Não sei a resposta
Não há muito o que fazer
Na ponta da língua solta
Sussurrando em outros ares.

Anseio pela calma
Que só você sabe trazer
Em versos da sua prosa
Simulando nossos pares.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Palheta

Na cor
No tom da pele
Se revela meu rubor.
Mas nem sinto dor.
O calor já tomou meu corpo
E mesmo em sonho torto,
Sei que dessa cor
Misturada àquela
Farei a minha aquarela.

Voz

Em outros cantos
Não sigo o encanto
Que outras vozes
Tentam cantar com a minha.

Contanto,
Sei que é tanto...
E que ainda há cantos
Muitos pra se fazer!

No entanto,
O meu inverso sem pranto
Quando entoado em alto,
Será cantado com a sua.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bem-me-quer

...arranquei todas as pétalas pares.

Ais

Mente dele
Corpo meu
Dor que ninguém sente
Num torpor inerente.
Sinto,
Retendo o que se foi
Como quem diz, bobo, surpreso,
Como sem ter pré visto ou vivido:
O sol se põe!
Porém...
Conheço quem me tem...
Sei que ontem,
Riso, rubor e outros,
Tudo foi em menos tempo.
Foi só.
Somente nós.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ansiedade

Meu estômago corrói...
Ô ansiedade louca!
Nem me reconheço!
Passo o dia a tremular
Uma perna e outra também...
Sem nem ter mais unhas a roer
Esperando sabe lá o que!
To ficando doida
Até um muito boba
Por causa de uma calma que não tenho.
Ai...
Quase contorcionista
Esqueço que sei ser a mesma
Que finge não dar na vista
Quando bate uma coisa assim como esta.

domingo, 12 de outubro de 2008

Dividendos

Na minha soma
Sádica é minha dor
Que minha conta não sabe
Se de fato tem valor.
A matemática é minha
Que somatizo sem somar.
Meu total
Não é número perfeito
Mesmo sem nada restar.

Soma

Uma dor somática
Ai, meu corpo!
Com quilos extras com razão
De uma vida dramática.
Com mais tragédia e menos solução
De um dia desses de estorvo.
Finjo não sentir mais
Pra ver se tudo sai.

Me ajuda com a matemática?

Manha

Meu humor russo
Numa constante montanha
Nem reconheço o curso.

Não à toa, talvez
Eu descubra meu trajeto
Mas tento manter a sensatez.

Apesar das dores
Mesmas, iguais a sempre
Não sei ter amores.

Numa ansiedade tamanha
Que sinto corroer o estômago.
Preciso parar de fazer manha.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Meus

Minhas metáforas,
As melhores amigas de um poeta que não sabe falar.
As duras penas que não se pode sentir
Com outras palavras.

Meu dicionário,
O soberano de todo o saber.
Que ignora qualquer dúvida por vir
Com as mesmas palavras.

Meu,
A única certeza que ainda finjo ter.
Na esperança de tornar real esse fingir.
Com as suas palavras.

Pois

De repente olho as unhas roídas...
Tento lembrar em ser otimista
Mas não esqueço minhas promessas...

Depois, é preciso viver...
Mas viver de que?
Nesse tempo não há pressa...

Remonto um castelo
Na busca de me fingir segura.
Meu rubor, no entanto, me confessa.

Pois:
Que cresçam as unhas.
Quebrem-se as promessas.
Vivam-se com calma.
Derrubem-se as muralhas.



Só não me acordem para o jantar.

Tola

Nada além sai de minha boca
Não sei quem roubou minhas palavras...
O que será que ocorre?
Minha voz continua rouca.
Num suplício que não vem
E nem traz uma lembrança
Fico à mercê da memória como tola.
Um momento apenas
E eu esqueço jamais
De todo passado que ficou para trás.

A dois

Boa é a hora em que o silêncio sucumbe ao beijo.

sábado, 27 de setembro de 2008

Amarelos e azuis

Quais cores serei capaz de enxergar,
Se sem vida, em cacos está meu olhar?
Nem sei se é vidro,
Ou se é espelho
Que me cega a tal ponto!
De uma rapidez inebriante...
Parece até mentira quando conto!
Quero ir pra esse lugar
Onde amarelos parecem par
De azuis infinitos
Constantes como nunca existiu
Longe desse meu novo lar.

Imagem

Nesses meus olhos de vidro
Não vejo nada além do mesmo.
Uma imagem congelada.
Sem auto controle,
Remoto é meu desejo
De apenas dar movimento.
Um pouco pra fingir
E um pouco pra crer
Que meu anseio é menos do que vejo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Por essas e outras

E se não fosse você a me procurar,
A me contar mentiras que eu não saberia inventar,
A dizer que sem fim é um sonho que recomeça no presente,
Que na luta, há corpo resistente.
Que a derrota é apenas um fantasma,
Que no coração, como dor, espasma,
E que onde estiver a culpa,
A ruptura será inevitável.
E por isso, nesse sei lá o que,
Nese discurso previsível,
Que permaneço, como não posso,
Desse meu jeito estável.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Aliança

Tudo é o caos.
Nas minhas partículas,
Das quais só eu sei as particularidades,
Ocasionalmente encontro
Um caso ou outro
De partes adversas.
Não que haja partidas
Ou cisões partidárias,
Mas é que quando há mistura e promessa
Lembro que cada parte é uma só
E é aí,
É aí que a guerra começa.

Essa semana foi criativa!

E na metalinguagem
Se faz a poesia
Não dela mesma,
A poesia,
Mas no próprio eu
Que mesmo lírico
É apenas real:
Mais uma vez
Um retrato
Um encontro casual.
Da boca e do papel.

Para os apaixonados

Na suavidade breve
Desse sopro de brisa
Até mesmo vento leve
Derruba qualquer edifício.

Das árvores, constante
Nem mesmo aas raízes
Sustentam esse rompante
Apesar de todo sacrificío.

Por qualquer tempo curto
Em sonho dura a eternidade
Lembrando que, às vezes, é no surto
Que se observa o precipício.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Das antigas...

Como posso ser plena
Se minha amargura
Não só me condena
Mas também perdura?

Se uma dor
Qualquer que seja ela
Tem este peso, este valor
Como posso sair desta cela?

Num mesmo labirinto
Tão monótono que sei
Não esqueço o que sinto...
Onde foi que errei?

Sem marcas da solução
É como se eu continuasse
A viver numa freqüente ilusão
Que, sabe-se lá,Talvez nunca passe.

Feliz

Risos. risos e mais risos...
Não sei se de sarcasmo
Ou ironia, talvez.
Mas estou achando graça
Feliz demais!
Pode ser por quê?
Auto-estima como um vulcão.
Antes foi tudo em vão
Não que agora tenha valor,
Mas tá tudo bem!
Agora não sei quem sou,
Mas não me importo também!
Chega de melancolias...
O que não me quis antes,
Não me terá depois.
A vida flui
E minhas bossas e choros
Não têm mais horas.
Quem estiver perto de mim
Que fique logo sabendo que será assim:
Submeta-se ao meu egoísmo.
Risos.

Sem

Conhecer
Conceder
Conviver.
Consertar
Conectar
Conjurar.
Conceber
Condescender
Conferir.
Confiar??
Confinar!
Configuração conflagrada do confeiteiro.
Confirmada, confessada, confusa.Condolências...

Hoje e amanhã

Viva o hoje! Não perca tempo! Faça tudo o que puder hoje; não deixe para depois. A juventude passa rápido! Quando você olhar pra trás terá passado a melhor parte da sua vida! Cansei de ouvir essas...
Cansei de seguir esses ditados nostálgicos e saudosistas que os velhos de espírito teimam em falar. E eu sigo há tanto tempo este estilo de vida acelerado, intenso, que nem percebo como existem outras inúmeras maneiras de transformar meu caminho em apenas um caminho, de fato. Às vezes pareço viver o final mesmo sem nem ter começado (!).
Aliás, não sei nem dividir minha trajetória em partes como um roteiro, uma trama. Tudo é drama. Tudo é caos. Tudo é por inteiro a todo momento – apesar de eu nunca estar de fato inserida em cada situação. Meu corpo vive a cena, mas meu sentimento só encosta o dedo na água. Não mergulha. Fica a sentir o vapor quente que contorna a piscina. O vapor não afoga...
Tentei algumas vezes mergulhar. Mas na ânsia de sair logo da submersão, acabei entrando rapidamente na água, até mesmo me queimando. E, ainda com medo de sentir falta do agradável morno, me retirei à superfície e voltei à posição externa de sauna.
O meu presente é esse eterno vapor, oscilado por breves pulos de cabeça ou fugas para a área externa.
Meu presente se separa do medo para súbitos de coragem, mas retorna ao estado absorto, cheio de reflexões e promiscuidade.Entrego meu amanhã numa consciência imatura e preocupada. Abro a mão e deixo esse amanha – fruto do meu hoje – cheio de medo. Ignoro totalmente as conseqüências de me molhar.

sábado, 13 de setembro de 2008

Das antigas, gosto muito, agora completa...

Um cigarro aceso queimando solto no ar
Enquanto espero o relógio passar
O tic tac confuso e lento
Que teima em não andar.
Minha ilusão real
É treva do bem e do mal
Detona por um lado
Mas denota o meu fardo
Que não canso de carregar.
A ajuda nunca chega
Pra mim que não me mexo.
No metal pareço ímã...
Será que alguém me filma??
Nesse abismo que dá pé
Acabo afogando meu corpo
Sem fingir o mínimo esforço.Um cigarro solto a se apagar.

Fim

...e que a vida não acabe em taco...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Brincadeira

Não quero saber se foi em vão,
Ou se haverá culpa após a razão.
Quero apenas brincar de estátua.

Quando

E quando este dia chegar,
Nada no mundo me fará aquietar
Ou travar meus dedos, minhas mãos.
Qualquer esforço será em vão.
Não haverá noite
E nem tampouco dia.
Minha profissão será a eterna...
De nada servirá a tecnologia.
Pois quando este dia chegar,
Nem mesmo o tempo poderá ignorar
E fazer do meu silêncio
Um grito longo desse meu pensamento
Que nunca vai acabar.

Acompanhando...

...aguardo as cenas dos próximos capítulos...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Rapidinha

Em apenas 5 minutos
E parece tudo novo
Como quando uma muda
No deserto é um outro broto.

Avulso

Folhas avulsas não me servem:
Se perdem ao vento,
Vão longe,
Voam sem volta
As memórias viajam ao relento.

Curta

Um roteiro sem clímax,
Constantes de atos sem-graça.
Meu persongaem disfarça
A incessante mesmice
Que nenhum fala disse
Ser o oposto do que é.
O protagonista não mente
Mas o filme se torna um repente
De uma novela barata das oito
Tão ruim,
Quanto sem fim.

Horas

Apenas uma hora
Para que o tempo demorasse um pouco mais
Alguns atos de drama depois,
E seria uma nova estória.
Sem espaços, sem tacos e sem escudos.
Um simples passar de minutos
Nos relógios que não estão mais quebrados.

Tubulação

No vácuo de um cano
Corre um vento seco
Aspirando ar e pó
De algo que acabou mais cedo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Silêncio

Fogos de artifício
Num queimar incessante
Nada agora mais que esse constante.

Lábios mordidos dos lados
Rasgando aos poucos, lentamente
Algo acomete minha mente.

Nas ruas segue o trânsito
Carros fluem acelerados
E tudo sendo levado.

Enquanto...

aguardo quieta.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Nadie

Si no fuera a mi...
¿A quién se podría decir
que el alma se ha cargado
de soltar por las ventanas?
Yo solo tengo ganas
De no decir ahora
Que mi aguardo está lleno
Y que no hay más nada...
Por lo que viene,
Yo no más temo.

Guantes

Los mismos motivos
Me hacen llorar ahora...
Se fueran .
Los peligros existem
Todos allí fuera.
En nuestra espera
Que olvida siempre
Que en el mundo
Hay mucho más.

Encuanto espero,
Cubro mis manos con sus guantes.

Pernas

Quatro pernas.
Uma, pouco
Duas, apenas um
Três, às vezes não sustenta.
É preciso pares
Para o equilíbrio perfeito.
Pra ver se assento.

Pra Ana Paula

Existe prazer além da dor.
Existe dor além do prazer.
O que não deve existir nunca
É o medo desse transpor,
O receio de que depois
O vício acometa seu ser.

(Obs: vai por mim...)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Poesia de tempos idos que não voltam mais...Graças...

Ah! Minha amargura
Fardo forte de compostura
Que finca fatos de loucura
Nesse meus atos
Sem visão de fato.

Calada

Omitir é submeter-se à ausência
É ignorar uma presença,
Mentir sem nada dizer...
É fingir que não lembro o quê.

A omissão é a negação da verdade
Sem contradição...
Há submissão na sinceridade...
Pelo menos no coração.

Se eu me esquecer de mim...

O meu maior medo é o da dependência. Ser capaz de emancipar-me de meu próprio pertencimento é uma tarefa difícil. Sendo sozinha posso ser única, posso mostrar minha desvirtuosidade apenas para minha mente. Não preciso passar por julgamentos e juízos de valor de um outro que, provavelmente, nunca será capaz de compreender minha fraqueza. Mostrar quem eu sou ou quem eu gostaria de ser se pudesse me desprender da ética e da moral a que sou submetida com ou sem meu consentimento é me entregar à imperfeição humana.
Agir com destreza é minha máxima, minha lei de vida. Uma das frases mais importantes proclamada pelos judeus è a que diz: "Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que minha destra perca sua destreza". Esse juramento é a sobreposição de Jerusalém ao erro humano do esquecimento. Eu estou disposta a esquecer "Jerusalém", mas não de afirmar e reconhecer meu erro do esquecimento. A minha punição não seria perder minha destreza, mas sim lidar com a declaração: esqueci.
O meu juramento não aceita quebras, rupturas. Portanto, se eu assumo que sou uma, continuarei sendo de tal modo. A mudança de quem eu sou se dá através do contato íntimo e intenso com o outro. Mas se o outro se aproxima de quem eu sou, ele se aproxima da matriz do meu eu. Porém, ao se embrenhar no meu âmago, acaba por perceber que talvez o meu eu exposto seja o meu eu de exposição, e não o meu eu influenciado pela presença alheia.
O espelho também serve como ruptura. O espelho olha com olhos próprios o que quem se reflete julga ser de ângulo único. A linearidade que o espelho corrompo transpõe em imagens a idéia de um ser estético. Não que a estética seja de fato relevante, mas o conhecimento que se tem dela o é. A forma física não interessa. Interessa o reconhecimento de sua estrutura. E, se para ver melhor é preciso ver de vários ângulos, talvez eu prefira permanecer cega de mim mesma e feliz com a fugaz imaginação de quem eu sou.

Sendo assim, esquecer de Jerusalém é desconsiderar quem no fundo eu me propus ser. E, se me fiz certa proposta, defenderei com todas as garras e em todos os ângulos a minha fronteira. Assim ninguém nunca será capaz de destruir e de destituir-me da única certeza que eu tenho.

Quando a morte bate à sua porta

Acordou no horário de costume. Era um dia qualquer de rotina. Gostava de dias como aquele. Não havia necessidade de se preocupar com nada. Todas as ações já eram mecânicas, programadas, desde o xixi matinal, ao ônibus para o trabalho.
Tomou seu café da manhã, preparado minuciosamente. A única surpresa do dia seria a manchete capa do jornal, que, na verdade, nem era tão inesperada assim. Haveria algo sobre esportes, sobre política, corrupção e cultura na primeira página.

Saiu de casa caminhando. O ponto de ônibus sentido centro ficava perto de sua casa e não tardou a chegar. Entrou e encontrou todos os lugares ocupados. Iria em pé durante a viagem. Tudo parecia igual. Tudo estava igual, inclusive o trocador e o motorista, os quais conhecia pelos nomes, visto que trabalhava há oito anos na mesma firma.
Apesar de ter uma vida sem surpresas, gostava da idéia de segurança que essa mesmice transmitia. Conhecia assim os limites próprios e os alheios.

Pela primeira vez, no entanto, algo mudou. Uma nova sensação lhe acometeu. Poderia ser um acontecimento que mudaria para sempre sua rotina. Em meio à condução lotada, em meio a barulhos de trânsito, vozes e roncos, num dado momento sentiu a vida esvair: era uma pontada no coração. Uma forte e horrível sensação. Sentia dores como nunca antes. O que lhe acontecera?
Lembrou, então, de um programa sobre plantões médicos. Estava enfartando. Tinha certeza.
Era a mesma descrição da simulação feita na televisão. Não teria escapatória: dentro de poucos minutos iria morrer ali, em meio à multidão tão reconhecível quanto insignificante. As dores não cessavam.

- Meu deus, quanto tempo demoraria até a morte chegar? - pensou, ritmado às batidas fulminantes do coração.

Decidiu descer do ônibus. Não poderia passar seus últimos momentos de vida ali, naquela sardinha humana.
A praia estava à sua frente. Puxou a cordinha poupando o resquício de força que ainda tinha. Gostaria de caminhar até o mar. Com dificuldade, arrastou-se ao oceano. Tirou os sapatos, jogou a pasta ao lado e molhou os pés. Deliciou-se por horas assim. O celular tocava desesperadamente, mas, naquele momento, nada mais importava.
O dia foi passando. Comprou uma água de côco do ambulante e continuou a molhar-se. A água alcançava seus joelhos e molhava suas calças.

As dores no coração continuavam palpitando, mas seu fim não chegava. Passou dois dias assim: a temer e torcer pelo inevitável bater das botas.
Pensou no porquê daquilo tudo e o que havia realizado em sua vida. Não havia plantado nenhuma árvore... Não cultivara nada... Não amara ninguém. Não tivera filhos e a única coisa que havia escrito fora o relatória anual da empresa de despesas com produtos sanitários. Poderia morrer. Estava pronto. Estava na hora, sabia. Mas a morte parecia torturá-lo.
Terminaria esperando-a em sua cama. A televisão se encarregaria de passar o tempo.

Dormiu e esperou por 3 dias. A dor já estava fazendo parte de seu ritual quando o telefone tocou. Não atenderia; estava convicto, decidido. Seu chefe o ameaçava enquanto mais dores acometiam. Agora sentia o abdômen corroer cadenciadamente.

- Cadê você? Só me apareça aqui morto porque senão quem te mata sou eu! Precisamos calcular quantos pacotes de papel higiênico iremos disponibilizar para a festa.

Ele estava morrendo e sua preocupação deveria ser pacotes de papel higiênico para a festa de final de ano! Papel higiênico! Papel higiênico...
Lembrou-se que não usava tal produto desde que começaram as dores. Foi ao banheiro, ligou o rádio e sentou-se à privada.

- Bom dia, ouvintes!

Bom dia?! Ele estava morrendo há cinco! O que havia de bom nisso?

Passadas sete músicas e três intervalos comerciais, sentiu. Era o fim. Não havia dúvidas. Um estrondoso som acompanhou as dores no peito. Outros estrondoses sons e um cheiro podre acompanharam as dores abdominais. Quase não conseguia enxergar, dado o desespero.

- Estou no inferno? Já sinto o enxofre! Ai meu deus! Perdoe meus pecados! Me leve para o céu!

Quase inconsciente, piscou os olhos. Ao abri-los, a luz estava lá. Deus havia ouvido suas preces? A luz, todavia, piscava e ele percebeu que o motivo era o defeito de sua lâmpada fluorescente que, por ter se tornado parte da rotina, ele não trocara.

Ele não havia ido nem para o inferno, nem para o céu. As dores, no entanto, cessaram e ele estava vivo como sempre. Suado, cansado, mas vivivinho, vivinho. Levantou-se aliviado e feliz e se deu conta de toda aquela dor. Ele havia liberado seu intestino.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Enquanto o tempo passa

Nada me pertence
Nesse mundo de interseção
Nenhum time vence:
Não há competição.

Todos são pedaços
De algo que não existe
Apenas um único traço.
Sem nadade sóbrio ou triste.

Os conjuntos são separados
Todos ao mesmo tempo
Numa unicidade tão particular
Que torna iguais,
Todos os diferentes.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Cronicando as lentes

Eu tinha um óculos escuros. Mas não daqueles que se vê por ai, não. Era um óculos cheio de historias, composto de emoções, cicatrizes e torções. Ele era meu xodó, meu inseparável companheiro naqueles dias mais radiantes que o suportável, e também naqueles dias quando a noite anterior tentava mostras seus êxitos e fracassos.
Enfim, eu me sentia completa quando vestia (sim, vestia) aqueles óculos, aquela personagem.

Um certo dia, porem, a gente se separou. Não por desejo ou por fim de carreira de um de nós, mas por uma imensa falta de atenção e desleixo, em um dia no qual os raios já não mais feriam meus olhos.
Deixei ele de lado por apenas um súbito momento - creia eu, mas que se mostrou o fim, o desfecho de uma era de plenitude.

Após o tempo devido de luto e de intolerância ao sol, sai para comprar um substituto qualquer que pelo menos me livrasse das agruras físicas.
Cheguei, então, ao mesmo berçário e me conduzi a seção de semelhantes.
Provei um...usei outro...gostei de alguns. Mas nenhum deles me vestiu. Eu estava à beira de uma desistência quando me deparei com uma daquelas tentativas de persuasão.

Não compreendo que táticas são utilizadas por tais locutoras, mas pra mim elas não surtem efeito algum. A promiscuidade em torno de um objeto material não deveria ser vendida assim. Cada um é um ser único e, portanto, cada óculos só lhe cairá bem se também for único e dependente de suas características próprias.

Mas deixando de lado a total ausência de habilidade da vendedora, continuei minha procura. Por um dado momento, pensei ter encontrado meu próximo companheiro - ainda que não a altura do anterior. Estava mirando se tal par de lentes côncavas (ou convexas...não estudei isso em física) poderia me conceder o conforto que eu buscava quando, novamente, me vem a já intragável criatura totalmente despida da consciência afetiva que pode haver entre uma pessoa e seus óculos.
Me disse que o tal óculos em meu rosto possuía inúmeras especificidades: pintado à mão (?!), caixa feita à mão com relevos "super modernos" e que só O acompanhavam e um preço ótimo: R$150,00.

Passei a refletir sobre a idéia da individualidade de que aquele talvez futuro xodó estaria provido, quando ressurge o surreal e chato parlatório daquela merda de vendedora:
- Se você não gostou desse, eu posso te amostrar outros...

Neste dia ensolarado, escrevo em meu caderno e sinto meus olhos, ainda desnudos, fugirem da luminosidade esperando um próximo escudo.

Trabalho do diálogo da faculdade....feito em 2006

1 conversa 2

1. E então? Qual vai ser? Você já se decidiu?
2. Não.
1. Sei…Qual a sua dúvida?
2. É…
1. (interrompendo B) nem precisa falar. Já sei…nem fala nem fala..Você vai dizer que seu último relacionamento foi um fracasso…Voce mesmo destroi eles! Que você já não não quer mais saber de mulheres na sua vida…mentira! Voce vive saindo com aquelas esquisitas.. Que a depressão tomou conta do seu ser…lógico, voce abandonou o seu analista e agora vai se consultar com aquela louca! Não é isso? Não é isso que você ia dizer?
2. Não...
1. Vem cá…você não consegue se decidir né…eu sei que você dá muita importância pra essas coisas…mas cara, eu sou seu amigo! Eu quero o mlehor pra você. Você consegue perceber isso??
2. Sim…
1. Calma! Não acabei de falar! Não me venha com “mas”…voce ia falar um “mas” nao ia???? Nao ia???
2. É…
1. Viu! Eu te conheço! To dizendo que te conheço…vinte anos de amizade servem de alguma coisa né
2. É.
1. Mas me diz: qual o seu problema? Voce tem que deixar as coisas rolarem sabe…nao adianta ficar lamentando e depois vir dizer pra mim que teria feito as coisas de outra maneira. Essa é a sua chance de começar e de começar dessa maneira diferente de que voce sempre falou!
2. Eu…
1. Caramba…voce relamente nao me deixa falar…voce nao quer me ajuda? É isso? Quer que eu fique calado? Mas ai tambme nao me procure na hora da choradeira…nem que seja para ir pro Maraca.
2. Mas…
1. Tudo bem..eu sei do seu trauma..mas descontar em mim nao vai adiantar nada. Se lembra na escola quando voce disse que era louco pela Júlia? Entao! Eu te incentivei. Disse pra voce ir atrás que era garantido. E veja como acabou! Voces namoraram por duas semanas..
2. É..
1. tudo bem..eu sei que voce vai dizer que com 7 anos as coisas eram mais fáceis e tal…que naquela epoca mulher nao tinha ciume do campeonato brasileiro e nem do chopp no fim da tarde…mas cara, voce tem que rever seus conceitos…os delas mudaram e voce ta ai, estagnado! Concorda comigo?
2. Sim.

(pausa)

1. e entao, mais um chopp?
2. Sim.
1. escuro? Claro? Claro, né?
2. Sim.
1. viu so como eu te conheço…voce nem precisa abrir a boca que eu já sei o que voce quer. Na boa, agora, voltando ao assunto anterior…Ela é muito gata! Escuta o que eu to te falando…aposto que se o seu analista estivesse aqui agora ele estaria do meu lado. Pena que voce dispensou ele né? Dispensou nao foi? Porque voce faz isso? Uma coisa fica ruim na sua vida e voce esquece todo o resto..destroi como se fosse uma vidraça..juro, eu nao te compreendo…
2. Então…
1. Peraí. Por favor, para de balançar a perna que eu nào aguento mais me sentir num calhambeque!
2. Tá…
1. continue, por favor…continue…
2. Pois é…agora voce vai entender porque eu nao estou afim de conhecer essa tal ai que nem nome tem! Olha, primeiro de tudo eu quero te dizer que o meu ultimo relacionamento so foi um fracasso por conta de voce mesmo! Voce estragou minha ultima relaçao quando disse pra minha ex que enquanto a gente tava saindo eu saia com a Roberta. Entao, nao venha me dizer que eu fracasei nao…que eu so me ferro…
1. o que eu queria dizer…
2. perai que agora quem fala sou eu! Nem pense em me interromper…Outra coisa: o meu analista eu larguei porque Ele era louco. Ele vivia dizendo preu tomar Prozac. Po, Prozac é coisa de mulher…eu sou macho! Viril! Prozac é o caral..
1. Opa!! Estamos num restaurante de familia e..
2. E nada! Nao quero saber. A minha nova analista trabalha com aromaterapia. “e uma ciencia que está cada vez mais evoluindo e…
1. Peraí. Esse negocio ai nem é ciencia…hahahah era só o que me faltava…chamar a terapia de sachê de ciencia! Hahahaha

(pausa)

2. ta vendo..ate perdi meu ponto…Ah sim…quanto a tal da mulher…Voce mesmo nao se lembra que quando ela namorava aquele cara, aquele que jogava um futeba com a gente todo sabado, a vida dele se tronou um inferno e nao sei mais o que. Voce mesmo disse que ela dominava tudo na vida dele. Até a conta bancária que ele tinha no exterior…Po, pra ter uma mulher assim eu prefiro sair com as minhas “esquisitas mesmo.
1. mas olha pra voce agora
2. Eu to olhando. Eu tenho confiança no cara que eu vejo no espelho todos os dias. Mas voce parace que quer me redimir…dizer que estou ruim…que eu preciso de mulher 24h por dia, 7 dias por semana! Eu nao! Quem quer é voce!

(pausa)

1. po cara…ta pegando pesado..
2. deixa entao, so pra ilustrar, uma parada que sonhei esta noite.
1. vai fazer alguma diferença?
2. Fica quieto e escuta. Eu tava no meu sonho, andando completamente nu pelas ruas. Por todos os lugares que eu passava as pessoas acenavam e sorriam pra mim. Até crianças faziam isso. E eu ia correndo, mas nao correndo rapidao nao…eu tava correndo feliz, calmo. Ate que ouço um grito, um grito muito longe. Saí entao atras da pessoa que gritava. Eu percebi que estava sentindo muita dor. E quando cheguei ate o local – um galpao abandonado cheio de entulho e fotos de mulheres pelas paredes – vi que era voce. Todo cheio de roupas, engomado ate o pescoço parecendo o bebezinho da mamae, voce gritava que estava preso. Que nao era pra ser assim.
1. hahahahahahahaahhaha. Eu tava gritando? Eu? Ai ai…so em sonho mesmo…
2. relaxa ai..nao to te chamando de viado nao…ja me acostumei quando tu dá as tuas pintas de metrossexual.
1. ha ha ha (ironizando) muito engraçado voce.
2. Deix a eu terminar…entao, eu fui te ajudar a sair dali e voce disse que nao podia. Que se voce saisse elas viriam te atacar. Mas ai antes que eu realmente pudesse fazer alguma coisa por voce o telefone tocou. E acordei.

(1 e 2 quietos um olhando pro outro…)

2- era voce me ligando. Me xingando no telefone porque eu tinha furado aquele encontro de casais ridiculo que voce tentou me arrumar pra conhecer a tal da sem nome.
1. ta…e eu fiquei ouvindo essa sua historinha ridicula pra que hein? Posso saber? Caraca, essa sua ex te afetou mesmo.

(1 beija a boca de 2)

2. quer saber de uma coisa?
1. sim
2. (mostrando irritaçao) sabe por que voce ve tanto problema em mim? Porque voce é um louco! Um problematico! Voce nao sabe nem distinguir um homem de uma mulher…meu querido, eu tenho piru, pau! E isso nao foi feito pra outros que tambem tenham ta entendendo?? Porra!
1. mas
2. pois é!! Pois é…voce ficou 2 horas reclamando que eu tava balançando a perna..que voce estava se sendtindo no mar…
1. não
2. Ta…que voce estava se sentindo sei la aonde…e agora vem com essa??? Isso é tudo culpa desse SEU analista! Esse merda que acha que soltar todas as emoçoes é o que faz as pessoas serem felizes…mas eu sabia! Eu sabia! E como! Eu tinha certeza de que esse cara so podia estar te tranformando nessa bicha! É isso mesmo!
1. mas…
2. nessa bicha!! Nesse metrossexual que VOCE é. Voce so pode estar tomando Prozac…serio…diz pra mim…esta ou nao estao…porque se estiver, o seu comportamento estara desculpado…po..tu é meu parceirao…mas nao quero seus problemas de sexaulidade pra cima de mim nao…
1. é..
2. eu sabia…
1. não…
2. Eu sei…calma
1. não é isso…e…
2. Cara…agora relaxa…tamo junto…eu vou te ajudar a superar isso…mas nao venha reclamar dos mues “toc’s” nao…

(2 beija a boca de 1)

2- isso é pra voce saber, cara, que eu to contigo…eu vou te ajudar a sair dessa…alias, por que voce nao sai com a tal sem nome? De repente ela é mesmo uma daquelas mulheres extraordinarias que vai te trazer à velha forma…sacou? Voce tava fazendo uma propaganda tao boa dela…e po, dizem que ela é gostosona né?! Geral comenta isso..
1. (sorri timidamente) Cara, chega disso…

(pausa para olharem a tv do bar…está passando um jogo de futebol)

2. tu viu como o Ronaldinho Gaúcho ta jogando? Esse cara é foda…destroi…
1- Porra, e como! Vamos pedir mais uma rodada de chopp?

terça-feira, 22 de julho de 2008

Nascimento da loucura

Ela era simplesmente ela. Mesmo quando tentava ser outra, era impossível não perceber os traços de suas principais características sob os disfarces. Podia fazer o esforço que fosse. Podia travar a ansiedade de se libertar. Podia criar até uma nova identidade. Nada era capaz de escondê-la.
Durante anos foi venerada. Aclamada por sua irreverência. Todos queriam ser como ela. Quer dizer, nem todos. Mas os que não queriam, desdenhavam seu modo de ser pois sabiam que, apesar de seus defeitos, só ela era capaz de atingir essa plenitude em segurança.
Em qualquer lugar que fosse, era sempre lembrada. Tinha histórias e estórias para contar. Não se importava que o mundo soubesse de suas facetas. Aliás, na verdade ela gostava dessa exposição. Fazia bem ao seu ego. Através dela podia revelar sua exímia habilidade em narrar a vida - coisa que acabou se apaixonando em fazer.
E, como em qualquer caso de paixão, também nesta ela se entregou. Deixou-se levar aos poucos e a cada dia passou a "aumentar". "Aumentar" não como mentir, mas sim como uma progressão geométrica de suas vivências. Ela insistia em produzir cada vez mais. Criar era a sua subsistência.
E, assim, ia criando mirabolantes fascículos de vidas que até hoje não se sabe a vercadidade.

No entanto, também não podia deixar de exagerar-se - visto que a comédia escrachada e o trágico profundo e (por que, não?) profano são gêneros de uma receptividade acima da média.
Essa paixão pela fala, pela escrita, pelo consumo de mais e mais histórias era o que a fazia viver. Era o que a fazia persistir numa mesma caricatura de si. Além disso, o reconhecimento de suas artimanhas verbais lhe concedia ainda mais prazer em fazer "material de pesquisa e trabalho", como gostava de chamar suas extrapolações.
E foi por essa paixão, esse ritmo, que o ciclo incumbido a qualquer e toda paixão desandou: depois do ápice, a paixão desaguaria, amornaria ou se descontrolaria de vez.
Mas Ela já não seria mais capaz de dominar os acontecimentos. O controle fugia de suas mãos como lebre do lobo. Para que não o perdesse por completo, ela decidiu que aquele era momento em que deveria decidir pelo seu rumo. Optar, agora, não era um privilégio. Cabia às suas atitudes a definição de sua mais nova máscara, que poderia lhe devolver o prazer de sua paixão e a reciprocidade que antes havia.
Enfim, e talvez até um tanto quanto contrariada, ela chegou a conclusão. A partir de hoje, Ela teria um novo nome: Loucura.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Viadutos

Nas vigas dessa rua
Cinzas e sujas
Um rio se esgota e sua.
Não sei se rio,
Ou se esgoto
Percorre ruas em minhas vigas.

Livre

E o que é a democracia

Se não posso ter escolha?

Ilusão deve ser...

Tenho na mente

Algo que não optei.

Eu que nunca fui passiva

Tenho rouca voz

No entanto,

Voto?

Nem sei o que dizer...

Estou completamente à mercê.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

terça-feira, 15 de julho de 2008

Há dois anos, uma carta de amor

Eu estava lá. Você também.
Eu não te conhecia, mas sabia que era você.
Caminhei segura até o bar e te vi do outro lado do balcão, pedindo um drink.
Fingi não te ver. Foi difícil. Mas não podia transparescer que havia perdido o chão.
Você me olhou e me percebeu.
A insegurança tomou conta de mim. E senti quando meu corpo tremeu, ensandecido de ansiedade.
O garçom já me perguntava pela milésima vez o que eu queria beber.
Sorri, sem graça, e pedi o mesmo que vocÊ.

Sugava o canudo com força, desespero. Certa de que o momento estava por vir.
Mas respirei fundo e relaxei. Já recobrava a calmaria do meu ser quando vireir de costas e vi...você.
O turbilhão voltou forte e minha única certeza era a de que eu precisava sair dali, fugir.
E, quando eu já estava em meu caminho, você sem compreender, me puxou pela mão e me pegou. Você me segurava a um palmo de distância.
Eu olhei pra você e sorri, tremi, estremeci, me perdi, mas sorri.

E só então eu senti o fim de toda aquela dor.

Fevereiro

Não sei qual a graça
Mas sei que alguma ele tem.
Toda vez em que vem, me abraça.
Sem desdém.
Sem pensar em praça
Ou em outro alguém.
Ele apenas....
Vem.
E quando vejo
Percebo:
Sem esse me quer bem,
Talvez eu nunca pudesse me ser.

Pressa

Entusiasmo poético
Como se as pernas não dessem
Pra atingir tão rápido.
Por mais que corra
E da maneira mais linda possível
O alcance é curto.
A bossa, no entanto, é inexprimível.

À Lagoa

Retorno ao ponto de partida
Eu, que julgava ser sem saída
Percebo que às vezes,
Mesmo que só um pouco
Ainda há um resquício de vida.

Não foi por acaso que refiz o quadro
Já tinha dado por acabado o trato
Mas aí lembrei que nem sempre
Até quando todos tentam
A esperança se esvai de fato.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Coincidências

- Não quero mais falar com você.

Foi essa a última coisa que ouvi da boca dele.
Logo após ele ter dito:

- Não me procure mais.

Eu acatei seu pedido, embora a princípio tenha relutado, sabendo da dificuldade que seria não pensar mais nele. Não foi fácil. Hoje, paro nas mesmas esquinas, olho pro mesmos cantos. Tudo que antes era iluminado, tomado por uma química de física imaterial, com holofotes, palcos, cenário e destaque para nós, astros, virou apenas prosa de um autor qualquer.

- É assim que você quer?

- É – respondeu ele com veemência política e agressividade superior à de qualquer boxeador.

Ok.
Dali em diante ia ser estranho. Cada dia mais confuso, porém menos palpável o envolvimento entre nós. A distância tomava quilômetros. Em meio às novidades da rotina, eu ia apagando de vez os resquícios. Ao lembrar de tudo, tentava não lembrar nada de bom. Substituía os prazeres da melancolia pelo sofrimento da nostalgia. A dor até vinha, mas com cara de memória, sem caráter presencial. Outro dia, no entanto, fomos ainda mais estranhos. Depois de tudo e tanto, foi como se nos olhássemos pela primeira vez. Como dois desconhecidos a ambientar o mesmo espaço, forçados a conviver por culpa de coincidências abstratas.

- Quer tomar um chopp? – uma coincidência convidou-me.

- Tenho planos, obrigada.

- Planos... – repetiu ele, sem me deixar perceber se a retórica era de curiosidade ou ironia.

Planos. Não havia plano algum. O único que houve em algum momento foi o de esquecer de vez que existimos juntos por alguns. O plano ficara pra trás. Acoplado aos ódios e às repulsas. As verdades eram tão falsas que desabaram por inteiro.

- Vocês nem se cumprimentaram...Eu os apresento. – algumas coincidências poderiam ser mais abstratas...

- Oi, prazer. – ele disse

Gelei. Ele fingiu não me conhecer. Maldita falsidade! O que falar??? Nem sabia! Arrepios começaram a me consumir por inteiro. Ai meu deus! O tempo ta passando e eu ainda não respondi nada.Ai, ai ai!! A assim, meio de supetão, acabei sendo um pouco mal-educada:

- Babaca.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Alforria

Nao sei como foi...
Nem sei bem porque...
Quando vi, tava assim!
Entregue, totalmente entregue a voce.
Eu sei que voce nem sabe...
Logico, eu tambem nao...
Mas ontem eu te chamava de futuro...
Hoje no maximo de ex namorado.
Mesmo sem ter consumado,
O fato eh que acabou
De nos nada sobrou.

Uma pena, ou varias...
Mas nao quero mais ser
E, graças, sei que nao mais serei
Alguem que pecou
Por nunca ter apostado.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Crónica sem nó

Não entendo bem porque todos os escritos e autores, cronistas e colunistas teimam em escrever suas obras a partir de uma observação da realidade. O grande diferencial de alguém apto é o de descrever em palavras uma emoção fora do exprimível. Logo, por que não descrever sobre o imaginável mundo de ficções? O plausível nem sempre é o mais aprazível...
Por todo esse pensamento sem sentido que escrevo hoje algo que nunca pensei escrever anteriormente. Um texto sem motivo, sem início nem meio, cujo fim não se dá antes pelo simples fato de ter sido escrito depois. Quando não se tem nada a falar, qualquer que seja a ordem da expressão não alternará o produto sem valor nenhum.
Na verdade, um texto sobre nada (e não sobre o nada, como o exímio Seinfeld o fez bastante em sua carreira) é apenas a prova da capacidade de envolvimento e interlocução de um autor com o seu público. Quem me dera ter a certeza de que meus pensamentos, fundados sejam ou não, tomam tempo na cabeça de várias pessoas pelo meu simples assinar no rodapé!
Pretensão, talvez? Ou não...São poucos os que já disseram tanto que até são capazes de dizer em momentos vãos umas palavras sem pranto e sem emoção. E seu um dia eu assim puder discursar, sem querer levar o leitor a nenhum lugar, feliz escritora serei – a vender best-sellers sobre o vento, ou apenas falar na tv enquanto todos esquecem seus lamentos. Por ora termino meu devaneio. E deixo em aberto todo o anseio de receber algo de volta por uma crônica sem objetivo

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Homenagem

Em uma estrela da Lapa
Se esconde uma odisséia
Que nem a boemia carioca
Consegue disfarçar.

O circo está armado
E mesmo se os sons não forem democráticos
Ninguém no mundo os confunde.

Essa mistura de rock com samba
E funk na salsa
Denota a fundição,
O arco-íris
De mundos estranhos
Onde rola todo dia
O cenário do Rio
Ali perto da Lavradio
Sob os arcos da Lapa a quarenta graus.

Ironia

Tô esperando...


...

...

...



Pra ver se ansiedade passa.

Prisão

Lá pelas quatro da manhã
Me delataram ao policial
Eu não tava fazendo nada, juro
Mas nem quiseram ouvir o final.
- Aqui isso não pode!
Pode não, disse o policial
E eu já entregue
Declamei sobre as escadas
- Eu não sou marginal!
E me levaram pra DP
Ou vindo qualquer coisa no rádio
Ou talvez um cd.

E mesmo a culpa não sendo minha
Tive que enrolar
Soltar a lábia na ladainha
Pra dizer logo de vez
Que não era bem isso,
Jovem tem sensatez.
E foi tanta veemência dita
Que hoje eu nas ruas
Tenho ainda em minha ficha:
Prisão por abuso.

Lugar-comum

Poder-se-ia dizer...
Já é velha!
E velho não faz essas coisas!
Mas nem por isso escutaria...
Sob suas vigas corre a vida!
Alguém se atreve a dar um basta?

Sem descanso e na manguaça
Pulam em duplas nas escadarias
Se não houvesse mais...
Ou se houvesse um pouco menos...

Lapa

Lá pelas duas da manhã.
E foi assim que tudo começou
Entre esquinas e ambulantes
Sob o cheiro forte dos salsichões
Eu disse não.
A princípio...
Depois pensei a fundo
Bem lá no fundo!
Cogitei a proposta,
Não era bem uma resposta
O que ele esperava.
Eu disse:
Calma!
Ele disse:
Agora!
Pois então fui eu embora
Da minha noite

Com uma rosa nas mãos.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Essa ai completou um ano de vida...

Esqueci.
De súbito assim:
esqueci.
Sem soletrar,
Sem respirar,
Sem gaguejar.
Olho no espelho e me vejo.
Até a imagem se faz desaparecer.
E nem mesmo o beijo eu lembro.
Mesmo que eu tente inundar-me na memória.
Esqueci tanto que nem lembro de tentar lembrar.
Eu esqueci.
Simples assim.
Da maneira mais apagadora que pode haver.
E se alguém me pedir pra contar o quê,
nem mesmo conseguirei dizer.
Apenas repetirei:
esqueci.

domingo, 22 de junho de 2008

Um desabafo qualquer

Não existem desculpas. Para algo feito com toda a consciência, mesmo que se tenha errado, a certeza da vontade não garante o perdão.
Não que não existam os verdadeiros erros não-intencionais, mas, em uma abundância fora do comum, surreal, são necessãrias mais do que palavras de arrependimento para desfazer o mal-estar de uma ilusão.
Mas, se não fui, nem foi você, quem criou o desconforto, que seja maior do que esse desgosto a razão por tamanha confusão.
Assim pelo menos a validade eh maior do que a vaidade de uma simples discussão em torno de um nada que apenas se quer dizer.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Efemeridades da vaidade - O troco

- Não era bem isso que eu estava pensando...

- Como assim? - começou a discussão de relacionamento.

- Desculpa...Você deve ter me compreendido mal.

- Hum, sei não... - ainda paciente com a audácia dele de achar que ela não compreende as excentricidades dele.

- Como assim? - ele começou a temer a guinada na discussão.

- Eu é que não estava pensando nisso. - ela diz cheia de segurança.

- Eu entendo perfeitamente que você esteja se sentindo assim. Mas a culpa não foi minha. Você que entendeu as coisas erradamente...

- Erradamente? Como entender erradamente um pedido de namoro?

- É que eu não expliquei o que é namoro...

- Ah, sim. Na concepção mundial de namoro, a sua não se encaixa.

- Eu gosto de ser a exceção da regra. - ele diz com um sorriso maroto, como um malandro.

- Exceção? Não creio que você seja uma exceção...Conheço um monte que não vale a pena tanto quanto você.

Com o sorriso um pouco mais fraco mas ainda presente:

- Olha, não era isso que você me dizia quando estávamos...Quando estávamos...Anh, você sabe...

- Sei... Quando eu estava bêbada?? Não é isso? - ela, de sorriso irônico no rosto.

O sorriso amarelo brilhando no rosto ele não conseguiu esconder. Mas retrucou:

- Quando a gente ficava bêbado você era bem mais sincera, pelo menos...

- Mais sincera?? Você só pode estar brincando comigo né?!

- Por que você repete tudo que eu digo?

- Pelo mesmo motivo que você tenta me enrolar nas coisas que você diz.

- Mas eu não tenho nenhum motivo além da interpretação real que quero que você seja capaz de dar às perguntas que faço.

- Se é assim, sim. Eu quero namorar com você. Quero ser fiel, leal e todo o resto que o pacote manda.

- É...mas justo nessa pergunta aí não foi bem isso que eu quis dizer. As pessoas fazem muito caso dessa história de namoro...Mal começa e já trata como algo muito sério.

- Não foi bem isso? Justo nessa pergunta??

- Ah, lá vem você de novo perguntando o que eu te disse. Eu não entendo você. Como pode ser tão difícil compreender??

- Realmente! Como pode ser tão difícil compreender que um cara quer namorar comigo mas sem ser fiel!

- Não tente deduzir as coisas...

- É aquele simples silogismo que você criou.

- Eu criei?

- Depois eu é que me faço de desentendida...

- Que silogismo?

- Aquela sua máxima de vida: "Todos os homens traem. Ela gosta de homens. Logo, ela gosta de quem trai." E aí você se coloca no direito de me trair.

- Hahahaha. Você é ridícula!

- E você é um estúpido.

Ele retoma:

- Olha. Essa discussão ta muito divertida. Mas não tenho tempo para alguém que não quer ser minha namorada...Hoje ta muito difícil arranjar alguém decente e, sabe como é...

- Você só pode estar brincando comigo, né.

- Não estou não. E você, tá disposta a namorar comigo? Eu entendo perfeitamente o que você diz. Realmente, temos que namorar... Alguém que fique com a gente...

- Você quer mesmo?? Porque eu não vou aceitar ser traída etc e tal...Você vai ter que me ligar todo dia. Me mandar flores na tpm, me dizer que me ama quando uma vagabunda te der mole, dar a mão mesmo na frente dos amigos...

Ele foi visivelmene se empolgando com a idéia. Já podia até se ver em momentos românticos ao lado dela...

Ela, sorrindo, cheia de expectativa, imaginando cena a cena:

- Fazer sexo só comigo...

Ele desfaz o sorriso e trava:

- Hum...Acho que não quero mais.

sábado, 14 de junho de 2008

Outras miudices quase não ditas

Diálogo

- Oi!

- Olá.

- Sei...

- Hum...

- Ta?!

- Ahn??!

- É!!

- Aaah!...

- Né?!

- Sim...

- Hum...

- Talvez.

- Então...

- Então...

- Então, tchau...

- Tchau.

- Adeus

...

- Ei!

- Ahn?

- É...

- Que?

- Não se vá...

O nome tem uma razão de ser

Uma boa parcela dos meus fãs - sem pretensão alguma nessa frase - veio me perguntar:

- Mas, miudices? Por que?

Eu explico. Eu estava encarando o site do blogspot, sem saber que nome dar. A caixa em branco onde batizaria o blog parecia piscar sob meu olhar. Meio na pressa mas tentando dar sentido ao título, apostei nas múltiplas interpretações de miudices - tanto a palavra como as próprias.
Pra complementar, a aliterada poesia miúda.

Disso eu sei

Dissimulado discípulo
Disse o que disse
Mas não desiste
De dizer miudices.
Disfarçasse eu
Esses meus dizeres tristes
Não teria dito (eu?)
Que dizer demais distancia
Às vezes pode até desdizer
O que mais se quis dissipar
Através de todos os dizeres.
Dessa vez,
Disso, não duvido,
Eu sei.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Já que é dia dos namorados...

Resolvi postar (ai que medo desse verbo!!) a ansiedade em sua melhor metáfora.

Tá na mesa

Engraçada essa vida, né?! Outro dia eu estava sentada na minha baia. Eram umas onze e muito, quase hora do almoço... Aquele momento do seu dia em que todos se tornam egoístas e o seu estômago assume o caráter egocêntrico, com toda a legitimidade que tal postura - hoje condenada nos folhetins intelectuais - pode ter.
Então, estava eu nesse triste e infindável período de espera pela hora do rango, pelo soar dos tambores, pensando em minha companhia - se é que haveria alguma - e pensando, também, se seria possível explicar ao meu corpo já oco que a tal hora do alívio ainda iria tardar.
Eis que me liga um candidato a parceiro do egoísmo digestivo. Queria partilhar comigo seu sistema às 12h50. Ui! Me soou como um soco! Ainda eram 12h...
Pensei, repensei, refleti e decidi: que mal seria fazer meu corpo aguardar mais um pouco (!) para tornar o prazer de almoçar ainda mais gostoso? Meu estômago roncou que não, mas a vontade de comer com alguém prevaleceu.
Pra falar a verdade, a espera nem estava tão "ocaótica". Eu simplesmente ocupei meu cérebro de idéias loucas e pensamentos estranhos. Sabia que fazendo isso de barriga vazia, meu músculo receptor de alimentos não ficaria mais embrulhado do que já estava.
Antes de continuar este romance, gostaria de pensar alto. Se alguém um dia concordar comigo, serei a pessoa mais feliz do mundo: é normal arrotar quando se sente fome?
Eu arrotava continuamente. Aqueles minutos não passavam. Meio século me pareciam aqueles 50 alguma coisa. Aliás, esse negócio de tempo não é mole não. Se as horas fossem divididas em parcelas maiores, talvez a sensação de espera e inquietação seria bem menor. Imagine... Meu amigo não demoraria 50 infinitos minutos, mas talvez apenas 10 minutos - sendo cada um equivalente aos cinco da convenção temporal atual. Não seria uma boa idéia?
Bem, sem outras escapadelas de filosofia barata e sem graça...
O telefone tocou. Era ele me pedindo pra descer:
- Tô aqui embaixo. Vamos comer!
Nossa!!! Meu estômago quase saiu pela boca de tanta alegria! Ele ria, eu ria, sorria, boba, feliz como nunca, alegre, boba, boba... Nem reparei que o elevador demorava mais que o habitual. Olhando meu reflexo na porta de metal, eu me deliciava com a idéia do que estava por vir. Imaginava uma suculenta delícia de sashimi de alface com hot filé mignon.
O restaurante sem filas, foi o que encontrei. Mas minha companhia...onde estava? Não encontrava em lugar algum, de jeito nenhum, apesar de ver o guarda-volumes armazenando sua mochila única e inconfundível.
Resolvi desistir da espera. Meu estômago já ecoava por todo o salão sua revolta, seu manifesto, gritando por seu direito egocêntrico. Cedi.
Entrei na fila do buffet. E ali encontrei, de sorriso maroto, aquele garoto que me fez esperar. Ele absorto, ao olhar minha cara tomada pela raiva, pela fome e pelo desespero. Ele não havia me esperado! Olhei o relógio...eram 12h54. Realmente...a fome é grande! 4 minutos ele não agüentaria, não poderia, seria uma calúnia esperar. Hoje, portanto, não tenho mais dúvidas ou receios em almoçar sem companhia. Quando o estômago roncar, estará dada a largada. Sirva-se quem puder.

Pra quem é solteiro convicto, um motivo pra se declarar

Intestino

Ele me chama
Eu digo:
Calma!
Se de novo ele reclama
Eu obedeço.
Às vezes é assim,
Às vezes é o oposto
Numa relação perfeita,
Sem egoísmo.
Apenas prioridades.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Efemeridades da vaidade

Ele se virou e disse:

- Você quer ser minha namorada?

Ela, ainda se espreguiçando, sentiu a pergunta na reverberação de seu bocejo, sem saber distinguir realidade da ilusão auditiva matinal.

- Que? – mais um bocejo.

- É...! Você quer namorar comigo?

- Se eu quero?!

- É!! – ele, começando a refletir sobre os efeitos de sua proposta.

- Hum...Mas, por quê?

- Como assim, por quê?

- Ué, você deve ter algum motivo pra querer isso, assim do nada...

- Eu quero porque estou com vontade! – ele responde em tom de surpresa.

- E você acha que o fato de “ter vontade” – ela fala mimicando as aspas – é o suficiente para que eu aceite?

- Por que não seria?

- Porque uma simples vontade não é bem motiiivo...

- Mas a minha intenção é boa! – ele começa a se arrepender, já um pouco inseguro.

- E desde quando intenção é justificativa? Não sei porque, mas parece que você está me enrolando...Mas eu sou esperta! Não caio nessa, não!

- Mas, meu amor...

- Meu amor, minha flor, meu benzinho! Pode me chamar como quiser! Que pretensão, a sua!

Ela continua:

- Aliás, do que você quiser, não! Ou então você vai ficar achando que é assim, fácil! Tudo na hora que você quer. Eu achei que a educação que teus pais te deram fosse melhor... Mas você ta me saindo um pretensioso e egocêntrico. Agora, que te bateu a vontade de namorar, você decide que nós vamos namorar. Como se a minha opinião não tivesse o menor valor. Nããão... Ela vai aceitar! Vai aceitar porque eu disse! Não é isso que você ta pensando??

- Não, não é nada disso...

- Ah! Então o que foi, agora? Vai desistir? Vai dizer que se arrependeu? Que não quer mais? Agora que já brincou com meus sentimentos?

- Eu quero, lógico... – sua voz já perdeu a força e ele quase pensa em concordar com ela para acabar a discussão de um relacionamento que ela ainda não aceitou ter com ele.

- Hum, você queria há cinco minutos. Mas com essa voz frouxa você acha que vou acreditar?

- Mas essa voz é porque você está dificultando! – agora em tom agressivo.

- Olha a agressividade, hein! Não entendo você, sabia?! Se eu aceitasse logo de cara você ia achar que sou fácil e não ia me dar valor. Não que você me dê algum, mas... E como eu to sendo difícil você começa a amolecer, quase desistindo! Pode assumir! Agora eu acabei com a sua tentativa de ser ma-lan-dro.

- Mas ninguém falou em desistir! Você ta maluca??

- Ahn! Bela pergunta! Agora eu sou a LOUCA!

- Mas eu não falei que você é louca! Perguntei se está maluca!!

- Pergunta retórica não conta! Esqueceu a regra máxima dos relacionamentos?

- Mas a gente não tem um relacionamento!

- Agora você volta atrás...

- Olha, se você não quer...

Ela interrompe:

- E quem disse que eu não quero? Eu estou entendendo seu truque. Não tente me fazer de boba! Você me pede em namoro enquanto estou dormindo...

- Você já estava acordada!

- Posso continuar?? Obrigada. Eu estava acordando. Acordaaando. Sonolenta ainda, saindo do meu REM, quando você me obrigou a responder a pergunta que pode mudar a minha vida completamente só porque estava com vontade!

- É...

- E tem mais! Ainda fica reclamando dizendo que sou louca!

- Mas, meu amor

- Meu benzinho, minha flor! O que é??

- Eu, eu...

- Não gagueja e fala logo de uma vez!

- É que eu... Te amo!

Ela fica muda. A face enrubesce. A emoção e a vergonha tomam posse do seu corpo.

- Você, o quê?

- Eu te amo! Te amo, sim!

- Mas isso muda tudo! Agora eu preciso de tempo pra pensar...Me dê uns minutos...

Ela põe ele para fora do quarto, deita na cama, rola, abraça o travesseiro...

Se levanta, abre a porta, o chama e, cheia de ternura, diz:

- Pegue suas coisas.

Ele o faz sorridente e aliviado, imaginando a resposta na doçura da voz dela.

Ela termina:

- Está tudo acabado entre nós.
Ela fecha a porta, se joga e se deleita na cama novamente.

Cortando a faixa

- É só pra começar... Pra você ter visibilidade... Samara, todo mundo tem blog!! - ele falou com muita veemência, muita segurança, apesar da pouca persuasão.

Eu fiz que "nem sei". Não tinha argumentos pra defender o movimento dos sem-blog...
Nem tinha paciência...
Mas, ainda que um tanto arredia e sem querer assumir que concordei, hoje inauguro essa tal página.
Não que meu amigo tenha me convencido...
Apenas percebi que, se escrever é ao que realmente me predestino, preciso primeiramente ignorar certos caprichos.

Ta ái, Toddy!
Beijos