domingo, 7 de dezembro de 2014

...

O erro é meu. Eu nunca devia ter contado que já fui assediada uma vez. Ou algumas. Se me perguntar quantas, eu já nem sei. Vale contar as puxadas forçadas pelo cabelo? Ou a invasão da conta de e-mail? Assédio não é só mão naquilo, aquilo na mão ou aquilo naquilo. Assédio é tudo que uma pessoa que se julga mais forte faz sem consentimentos àquela que julga mais fraca.
Mas como eu disse lá no começo, o erro é meu. Porque ninguém quer lidar com a pessoa assediada. Ninguém quer ter que se compadecer de algo assim. Ninguém é obrigado a fazer nada quando vê uma pessoa sendo assediada. 
O que não se deve é falar sobre o assunto. Porque falar sobre isso faz perder o respeito ou gera piadas. Falar sobre ser assediada é a pior coisa que a pessoa assediada pode fazer. O correto é ficar quieta, virar as costas e seguir o conselho "esquece isso. Já passou". 
Pois eu conto que não passou.
Nunca passa. Acredite: a vítima é a maior militante para que esse passado não perturbe o presente. 
Mas as coisas não funcionam assim. E é por isso que eu deveria ficar calada. Porque é errado "exagerar" nessa história... Ne?! Deve ser, pela quantidade de coisas que escuto por aí. 
Mas eu não consigo ficar em silêncio. Desculpe se perturbo a sua distração e se você não quer saber dos problemas do mundo. Mas esse problema é SEU também. É o seu amigo quem faz isso, a sua amiga que sofre, ou a amiga dela e as outras tantas desconhecidas.
O machismo não é uma causa a ser combatida por aquelas pessoas. 
O machismo está em você também que acha errado e acha exposição demais tratar de um assunto que não te convém. 
Permita-me "assediar" seus ouvidos e a dar a triste notícia: assédios acontecem mesmo se não falarmos deles.