segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Uma xícara de chá

Diz o meu professor de filosofia do cinema que a realidade é falsa. Tudo é falso. Não existe um único conhecimento que seja verdadeiro, a não ser o sobre sua própria falsidade. As imagens e nossa percepção são tão difusas...Mas se a vida fosse uma grande profusão de realidades sem fundamento, os dias não passariam de brincadeiras de criança.

- Carminha, você gostaria de uma xícara de chá?
- Mas não há nada dentro.
- Finge que tem.

É. Eu poderia fingir que há alguma coisa dentro. Assim como a Carminha poderia servir-se de um chá de qualquer erva do planeta, existente ou imaginária. Eu poderia acreditar que existe vida após a morte, que existe amor e que as palavras não são apenas fonemas e encontros vocálicos. Eu poderia. A Carminha poderia.

Mas de que me bastaria viver acreditando em brincadeiras verídicas? Na minha realidade não há tempo para que a ilusão se esparrame. O chá derramado pode queimar.

Há quem diga que é em sonho que se encontra a verdadeira falsidade. Que a verdade palpável já transcendeu ao limiar de sua própria consistência. Portanto, seria só ao aceitarmos a falsidade como verdadeira que ela teria realmente seu reconhecimento e sua capacidade de sublimação.

Eu, no entanto, ainda sofro as agruras da verdade humana, do concreto, do asfalto. Na dureza de meu físico, percebo que mesmo quando creio em tanta falsidade, a verdade me puxa ao chão como força centrípeta à sua órbita.

Não há mais o que temer. Não há mais o que tomar. Derramei tudo. As lágrimas, falsas que só, molharam minhas verdades.