quinta-feira, 2 de julho de 2015

Depois de ontem


- preta, daquela bem carnuda, sabe. Você tem gosto de azeitona preta.

Foi isso que eu disse quando acordei. Era um elogio. Ela não pareceu entender.

- você precisa amadurecer, Renato.

Azeitonas pretas são as melhores. Quando você olha elas no vidro já fica com água na boca. Cheias de suculência... Marcam presença onde estão. Não dá pra não notar. 
Eu podia comer todo dia. Talvez não todo dia exatamente, pode enjoar. Mas a ideia de ter uma ali na frente disponível pra quando quiser é simplesmente genial.

Ela não seguiu a metáfora.

- Renato, depois de ontem a única coisa que você tem a dizer é que eu sou uma azeitona? É isso?

Ela queria um clichê. Talvez a azeitona fosse muito pro paladar dessa menina. 

Mas ela mandou um "depois de ontem". Hum. Depois de ontem...
Depois de ontem pode ser um fracasso. Aquela discussão mala de relacionamento. 
Depois de ontem pode definir padrão. Aquele sexo fora do normal em que ela gozou umas 3 vezes e falei com t-o-d-a-s as letras o que ela se amarra em ouvir.
Depois de ontem pode não ser nada além de hoje.

- depois de ontem. Sim.

Eu não poderia dizer "estou apaixonado ou qualquer coisa". Não seria honesto. Se eu dissesse exatamente isso depois de ontem, aí sim teríamos um problema.

- depois de ontem, eu gosto mais de azeitona preta.

Ela arrumou as coisas e saiu. Sem nem falar nada. Não disse pra onde. 

Quase de noite, eu sozinho na cama:
A campainha tocou. Abri a porta e estava ela ali, com um pote na mão.


Depois de ontem ela nunca mais foi embora.