domingo, 15 de fevereiro de 2015

Amor de carnaval


Tentei tirar a purpurina dos meus olhos da sua barba. Na verdade só fingi. Gostei de deixar uma marca da minha passagem em você. Como um sinal de propriedade, de direitos exclusivos. Mesmo que eu nem saiba seu nome. Você sabia o meu. 
E não precisávamos de mais nada.
A primeira vez assim. E eu me sentia livre como há muito não sentia. Certa, segura e feliz. 
Você disse umas coisas bonitas, eu fiz piada sem graça de ter sentido você tão perto de mim. Não queria virar as costas. Mas e o medo de dizer que eu poderia me apaixonar só com esse pouco? 
Você tem as palavras certas. Exatas. Gelei. Com "i", não posso esquecer. 
Me afastei. Não dava pra esperar. Você é gentil demais, alguém de quem posso me orgulhar. Tenho medo de gostar. 
Podia ser meu jardineiro fiel. 
Virou uma boa lembrança. Um momento pra carregar pra vida, como você bem disse.
Já to sentindo saudades. Minhas purpurinas não estão mais em mim.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Um dia comum


Aquela vez no mercado. Discutimos sobre qual creme de leite levar. Você querendo o mais saboroso. Eu na bandeira do quanto mais light melhor. Levamos um de cada. Você acabou comendo dos dois sem nem perceber.
Na sessão de molhos, debruçado horas como se fosse uma decisão importantíssima. Enquanto eu te olhava, apaixonada, nem aí pra quanto tempo você iria demorar.
Admirava seus músculos, suas costas fortes. Você é o único homem que conheço que fica bem de regata. Fica muito bem, pra ser justa.
Lógico que você sabia que eu tava te secando. E se alongou daquele jeito só pra rir da minha cara. Rimos. A sua gargalhada vem aos poucos. Quase nunca, rara. Mas quando vem, me sinto dona do universo. E você ri mais ainda porque sabe como me faz feliz quando mostra os dentes brancos contrastando com a sua pele morena. 
Escolho qualquer um dos molhos da sua mão e você me puxa pra roubar um beijo em público. Tsc, tsc: aqui não pode... E você faz que não escuta. Cedo.

A conversa com a moça do caixa, você me seca como se nunca tivesse me visto e eu tivesse nua dançando hula. Olho no olho, conferindo em frações de segundo tudo que fez você me escolher.
É. Eu puxo papo com todo mundo enquanto você observa calado e cheio de vontade de ir embora e de me ouvir falar só pra você. 
Eu e você cheios de ciúmes dos molhos, do mercado, do tempo. Porque ele passa mais momentos do que conseguimos acompanhar. 

A moça pede licença: vão pagar como?

Currículo

Sou uma cantora boa, mas ruim.
Toco piano direito, já esqueci tudo.
Corro rápido, nem tanto.
Jogo futebol, éeeeee...
Joguei basquete, lutei capoeira, fiz judô, fiz balé clássico, dança israelense, ginástica rítmica, natação, inglês, francês, grego, curso de desenho, dança africana, curso de culinária, de dublagem e de locução. Hablo español, sei algo sobre jazz, dietas, viagens, poesias. Tentei saber sobre tudo. 
Acabei publicitária.