segunda-feira, 19 de julho de 2010

Apenas uma flor

Um campo sem rosas
Um gramado verde, aberto mas sem nenhuma rosa.
Mas um dia houve uma rosa neste campo.
Uma rosa sem cor, uma rosa sem cheiro e talvez sem amor.
Uma flor que nao podia representar nada alem da sua propria existencia.
Mas que podia emocionar a esperanca e dar a mao ao tempo.
Enquanto em campos comuns varias rosas murcharam mais cedo,
houve uma entre elas que desabrochou em silencio.
No meio dos bichos, das feras e do inospito mato, essa rosa permaneceu viva.
A todas as estacoes, nos invernos e veroes, essa rosa sobreviveu.
As petalas sem cor, o caule sem cheiro...
Mas nao importa.
Mesmo fora do seu ambiente e mesmo nas chuvas e secas. Essa rosa permaneceu de pe.

A minha rosa, minha avo Rosa, sobreviveu a este infertil campo.

18/07/2010

Concentracao de novas memorias

nao conheci meu avo.
ele morreu antes de eu nascer, no brasil.
mas hoje pude caminhar sobre os seus pés, como criancas que brincam de dancar com os mais velhos.
de cracovia para auschwitz, o trajeto que henryk maultasch fez com tristeza, faco hoje com uma leve alegria no rosto.

nao conheci meu avo. mas consigo imaginar o que ele me diria quando decidi vir pra polonia.
talvez ele dissesse: "samara, por que voce vai la? nao tem nada pra ver la!
E eu diria: quero entender de perto o que voce passou...
E ele entao retrucaria: "as humilhacoes passam, as dores se curam. a tristeza cessa e a integridade eh reconquistada. nao eh necessario ver isso de perto.

meu avo, apesar de todo o sofrimento passado, nao gostaria de me ver assim, como ele esteve.
como ele mesmo dizia aos seus filhos, minha mae e tios, a coisa mais importante do ser humano eh o seu conhecimento. o estudo.
talvez ate seja por isso que eu esteja ha 7 anos na faculdade...
ironias a parte...

ele diria: "voce pode perder tudo, mas o seu conhecimento nunca poderao tirar de voce. mesmo que se perca o orgulho, que se esqueca pudores e que se submeta a "nuncas" antes ditos, a vida continua.

e eh por isso que venho aqui hoje. pra mostrar que a vida continua. que a vida dele continuou e foi tao prospera que trouxemos 2 amostras deste resultado pra essa viagem.

nao vou chorar o sofrimento. nao vou sentir culpa.
vou sorrir e agradecer a todos aqueles que lutaram por nos e que, sobrevivendo ou nao, nos mostraram o verdadeiro valor da vida.

meu avo nao me conheceu. mas eu, de certa forma, o conheco como nunca.

samara maultasch de oliveira, auschwitz, polonia - 17/07/2010.