sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Desejo



Eu queria escrever algo que dissesse o que foi o Quênia.
Algo que pudesse trazer as pessoas pra dentro das minhas memórias, que elas pudessem sentir o cheiro podre das ruas, tocar as mãos sujas de crianças sorridentes, ouvir o "how are you?" matinal das vozes finas.
Queria que elas sentissem o peso de pisar na lama das ruas, que elas vissem crianças almoçando uma manga. Queria que elas tocassem no cansaço de viver ali.
Queria que elas caminhassem pela favela, que fossem chamadas de musungo, que tivessem vergonha de não poder mudar o mundo.
Que dessem pro outro a própria comida, que não se importassem com as alergias, que brincassem com as crianças sem frescura.
Que dançassem torcendo pra hora durar, que essas pessoas não tivessem medo de se envolver. Queria que elas ouvissem de quem mora ali, que a vida dele é assim mesmo, e mesmo assim ele sorri! Queria que as pessoas aprendessem.
E que soubessem que há muito mais lá fora do que se pode pensar.
Queria fazer com que essas pessoas esquecessem peque julgam conforto porque conforto é ser feliz com pouco. Queria poder sentir o cheiro podre de novo e achar ele gostoso porque ele é o cheiro de quem se importa com coisas maiores.
Queria ser maior do que sou. Melhor do que sou.
Queria poder levar o Quênia pra todos os lugares do mundo.