sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Caderno novo

Entrei na livraria como alguém que invade ensanguentado a emergência de um hospital. Preciava de algumas resmas para a minha cura. Eu não sabia que ficaria tão perturbada...
Rodei as sessões sem conseguir decidir o que ver primeiro. Meu olhar estava incapaz de focar-se em um livro apenas. Não havia concentração suficiente nem para me fazer acalmar e perceber que não havia livro na minha frente. Eu estava parada, no meio do corredor da livrariasem saber se chorava ou se sorria.
Meus dedos foram buscar a solução e em pouco tempo eu folheei uma dezena de capas e páginas. Mas não lembro-me de nenhum título. Eu queria que um qualquer se atirasse em cima de mim e me dissesse:
- Sou eu! Sou eu o que você procura!
E aí, num passe de mágica, eu teria em minhas mãos, em preto e branco, tudo o que eu gostaria viver. A cada dia ele se reinventaria para que eu nunca o colocasse de volta em seu lugar e para que eu nunca procurasse um substituto.
Uma história nova por dia. E ponto. Novos dias, novas emoções da dupla inseparável. Eu e ele. E ele sempre a me agradar...
Enquanto eu admirava as minhas ilusões, me deliciava com a minha imaginação, percebi que não haveria solução. Depois de ser esbarrada por um decidido e realista na livraria, me dei conta. Nesse mundo não haveria alguém a me contar as histórias exatamente como eu as queria. Ninguém seria capaz disso.
resistindo à crença em mim mesma, dei por declarada a derrota e comprei um caderno novo para mim. meu livro sou eu mesma que terei que escrever.
Na fila do cinema, as pipocas por inteiro desciam goela abaixo. Não havia saliva para diluir todo aquele estouro.