quarta-feira, 11 de junho de 2008

Efemeridades da vaidade

Ele se virou e disse:

- Você quer ser minha namorada?

Ela, ainda se espreguiçando, sentiu a pergunta na reverberação de seu bocejo, sem saber distinguir realidade da ilusão auditiva matinal.

- Que? – mais um bocejo.

- É...! Você quer namorar comigo?

- Se eu quero?!

- É!! – ele, começando a refletir sobre os efeitos de sua proposta.

- Hum...Mas, por quê?

- Como assim, por quê?

- Ué, você deve ter algum motivo pra querer isso, assim do nada...

- Eu quero porque estou com vontade! – ele responde em tom de surpresa.

- E você acha que o fato de “ter vontade” – ela fala mimicando as aspas – é o suficiente para que eu aceite?

- Por que não seria?

- Porque uma simples vontade não é bem motiiivo...

- Mas a minha intenção é boa! – ele começa a se arrepender, já um pouco inseguro.

- E desde quando intenção é justificativa? Não sei porque, mas parece que você está me enrolando...Mas eu sou esperta! Não caio nessa, não!

- Mas, meu amor...

- Meu amor, minha flor, meu benzinho! Pode me chamar como quiser! Que pretensão, a sua!

Ela continua:

- Aliás, do que você quiser, não! Ou então você vai ficar achando que é assim, fácil! Tudo na hora que você quer. Eu achei que a educação que teus pais te deram fosse melhor... Mas você ta me saindo um pretensioso e egocêntrico. Agora, que te bateu a vontade de namorar, você decide que nós vamos namorar. Como se a minha opinião não tivesse o menor valor. Nããão... Ela vai aceitar! Vai aceitar porque eu disse! Não é isso que você ta pensando??

- Não, não é nada disso...

- Ah! Então o que foi, agora? Vai desistir? Vai dizer que se arrependeu? Que não quer mais? Agora que já brincou com meus sentimentos?

- Eu quero, lógico... – sua voz já perdeu a força e ele quase pensa em concordar com ela para acabar a discussão de um relacionamento que ela ainda não aceitou ter com ele.

- Hum, você queria há cinco minutos. Mas com essa voz frouxa você acha que vou acreditar?

- Mas essa voz é porque você está dificultando! – agora em tom agressivo.

- Olha a agressividade, hein! Não entendo você, sabia?! Se eu aceitasse logo de cara você ia achar que sou fácil e não ia me dar valor. Não que você me dê algum, mas... E como eu to sendo difícil você começa a amolecer, quase desistindo! Pode assumir! Agora eu acabei com a sua tentativa de ser ma-lan-dro.

- Mas ninguém falou em desistir! Você ta maluca??

- Ahn! Bela pergunta! Agora eu sou a LOUCA!

- Mas eu não falei que você é louca! Perguntei se está maluca!!

- Pergunta retórica não conta! Esqueceu a regra máxima dos relacionamentos?

- Mas a gente não tem um relacionamento!

- Agora você volta atrás...

- Olha, se você não quer...

Ela interrompe:

- E quem disse que eu não quero? Eu estou entendendo seu truque. Não tente me fazer de boba! Você me pede em namoro enquanto estou dormindo...

- Você já estava acordada!

- Posso continuar?? Obrigada. Eu estava acordando. Acordaaando. Sonolenta ainda, saindo do meu REM, quando você me obrigou a responder a pergunta que pode mudar a minha vida completamente só porque estava com vontade!

- É...

- E tem mais! Ainda fica reclamando dizendo que sou louca!

- Mas, meu amor

- Meu benzinho, minha flor! O que é??

- Eu, eu...

- Não gagueja e fala logo de uma vez!

- É que eu... Te amo!

Ela fica muda. A face enrubesce. A emoção e a vergonha tomam posse do seu corpo.

- Você, o quê?

- Eu te amo! Te amo, sim!

- Mas isso muda tudo! Agora eu preciso de tempo pra pensar...Me dê uns minutos...

Ela põe ele para fora do quarto, deita na cama, rola, abraça o travesseiro...

Se levanta, abre a porta, o chama e, cheia de ternura, diz:

- Pegue suas coisas.

Ele o faz sorridente e aliviado, imaginando a resposta na doçura da voz dela.

Ela termina:

- Está tudo acabado entre nós.
Ela fecha a porta, se joga e se deleita na cama novamente.

Cortando a faixa

- É só pra começar... Pra você ter visibilidade... Samara, todo mundo tem blog!! - ele falou com muita veemência, muita segurança, apesar da pouca persuasão.

Eu fiz que "nem sei". Não tinha argumentos pra defender o movimento dos sem-blog...
Nem tinha paciência...
Mas, ainda que um tanto arredia e sem querer assumir que concordei, hoje inauguro essa tal página.
Não que meu amigo tenha me convencido...
Apenas percebi que, se escrever é ao que realmente me predestino, preciso primeiramente ignorar certos caprichos.

Ta ái, Toddy!
Beijos