quinta-feira, 12 de junho de 2008

Já que é dia dos namorados...

Resolvi postar (ai que medo desse verbo!!) a ansiedade em sua melhor metáfora.

Tá na mesa

Engraçada essa vida, né?! Outro dia eu estava sentada na minha baia. Eram umas onze e muito, quase hora do almoço... Aquele momento do seu dia em que todos se tornam egoístas e o seu estômago assume o caráter egocêntrico, com toda a legitimidade que tal postura - hoje condenada nos folhetins intelectuais - pode ter.
Então, estava eu nesse triste e infindável período de espera pela hora do rango, pelo soar dos tambores, pensando em minha companhia - se é que haveria alguma - e pensando, também, se seria possível explicar ao meu corpo já oco que a tal hora do alívio ainda iria tardar.
Eis que me liga um candidato a parceiro do egoísmo digestivo. Queria partilhar comigo seu sistema às 12h50. Ui! Me soou como um soco! Ainda eram 12h...
Pensei, repensei, refleti e decidi: que mal seria fazer meu corpo aguardar mais um pouco (!) para tornar o prazer de almoçar ainda mais gostoso? Meu estômago roncou que não, mas a vontade de comer com alguém prevaleceu.
Pra falar a verdade, a espera nem estava tão "ocaótica". Eu simplesmente ocupei meu cérebro de idéias loucas e pensamentos estranhos. Sabia que fazendo isso de barriga vazia, meu músculo receptor de alimentos não ficaria mais embrulhado do que já estava.
Antes de continuar este romance, gostaria de pensar alto. Se alguém um dia concordar comigo, serei a pessoa mais feliz do mundo: é normal arrotar quando se sente fome?
Eu arrotava continuamente. Aqueles minutos não passavam. Meio século me pareciam aqueles 50 alguma coisa. Aliás, esse negócio de tempo não é mole não. Se as horas fossem divididas em parcelas maiores, talvez a sensação de espera e inquietação seria bem menor. Imagine... Meu amigo não demoraria 50 infinitos minutos, mas talvez apenas 10 minutos - sendo cada um equivalente aos cinco da convenção temporal atual. Não seria uma boa idéia?
Bem, sem outras escapadelas de filosofia barata e sem graça...
O telefone tocou. Era ele me pedindo pra descer:
- Tô aqui embaixo. Vamos comer!
Nossa!!! Meu estômago quase saiu pela boca de tanta alegria! Ele ria, eu ria, sorria, boba, feliz como nunca, alegre, boba, boba... Nem reparei que o elevador demorava mais que o habitual. Olhando meu reflexo na porta de metal, eu me deliciava com a idéia do que estava por vir. Imaginava uma suculenta delícia de sashimi de alface com hot filé mignon.
O restaurante sem filas, foi o que encontrei. Mas minha companhia...onde estava? Não encontrava em lugar algum, de jeito nenhum, apesar de ver o guarda-volumes armazenando sua mochila única e inconfundível.
Resolvi desistir da espera. Meu estômago já ecoava por todo o salão sua revolta, seu manifesto, gritando por seu direito egocêntrico. Cedi.
Entrei na fila do buffet. E ali encontrei, de sorriso maroto, aquele garoto que me fez esperar. Ele absorto, ao olhar minha cara tomada pela raiva, pela fome e pelo desespero. Ele não havia me esperado! Olhei o relógio...eram 12h54. Realmente...a fome é grande! 4 minutos ele não agüentaria, não poderia, seria uma calúnia esperar. Hoje, portanto, não tenho mais dúvidas ou receios em almoçar sem companhia. Quando o estômago roncar, estará dada a largada. Sirva-se quem puder.

Pra quem é solteiro convicto, um motivo pra se declarar

Intestino

Ele me chama
Eu digo:
Calma!
Se de novo ele reclama
Eu obedeço.
Às vezes é assim,
Às vezes é o oposto
Numa relação perfeita,
Sem egoísmo.
Apenas prioridades.