quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Desejo



Eu queria escrever algo que dissesse o que foi o Quênia.
Algo que pudesse trazer as pessoas pra dentro das minhas memórias, que elas pudessem sentir o cheiro podre das ruas, tocar as mãos sujas de crianças sorridentes, ouvir o "how are you?" matinal das vozes finas.
Queria que elas sentissem o peso de pisar na lama das ruas, que elas vissem crianças almoçando uma manga. Queria que elas tocassem no cansaço de viver ali.
Queria que elas caminhassem pela favela, que fossem chamadas de musungo, que tivessem vergonha de não poder mudar o mundo.
Que dessem pro outro a própria comida, que não se importassem com as alergias, que brincassem com as crianças sem frescura.
Que dançassem torcendo pra hora durar, que essas pessoas não tivessem medo de se envolver. Queria que elas ouvissem de quem mora ali, que a vida dele é assim mesmo, e mesmo assim ele sorri! Queria que as pessoas aprendessem.
E que soubessem que há muito mais lá fora do que se pode pensar.
Queria fazer com que essas pessoas esquecessem peque julgam conforto porque conforto é ser feliz com pouco. Queria poder sentir o cheiro podre de novo e achar ele gostoso porque ele é o cheiro de quem se importa com coisas maiores.
Queria ser maior do que sou. Melhor do que sou.
Queria poder levar o Quênia pra todos os lugares do mundo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

No bolso

Queria ler o livro
Que ta dentro da cabeça
"Não se esqueça daquele dia"
Eu te diria assim sem nada
Com uma voz quase apaixonada
De quem não sabe bem o que faz.
Mas acho que não dá mais
"Não sei o que acontece com você"
Talvez seja meu medo de perder
Não você mas a juventude 
Que vai embora de jeito qualquer 
Com bem ou mal me quer
Sei lá, sabe, assim
Eu pra você e você pra mim
Parece meio baboseira
"Sabe que isso é asneira"
Você trocaria a palavra
Só pra dizer a sua e não a minha
E a gente um dia se alinha 
Nesse eterno "não temos nada"
"Eu nunca quis ser sua namorada"
E a verdade é que digo sem saber
Se eu poderia mesmo dizer
Que isso tudo é mentira
Que prefiro ficar assim só
Pra que eu sempre tenha um novo nó
Pra começar a desfazer.
Eu não sei viver presa.
E por isso tenho pressa
De me soltar em tudo quanto é lugar!
Se você quiser vir do meu lado
Até finjo ser meu namorado
Mas a bem verdade é que quero você
Pra ser meu amante de viagem
Alguém pra me levar além
Do que minhas pernas podem ir.
Passou da hora de partir.

Yala

Eu peço pro mar trazer pra mim 
Mas eu é que deveria ir
Não dá mais pra ficar
Preciso quebrar essas ondas.
Não adianta tentar guardar o mundo
Entre as paredes desse quarto
Já é hora de dizer que parto
De um vez só sem volta
Que quero logo ficar solta
E achar mais do que quatro cantos
Ao meu redor.
Não há dor. 
É uma vontade enorme
Uma pedra presa aqui dentro
Que o mar nunca vai furar
Enquanto eu não mergulhar 
Cansei de só ficar
Quero partir de olho aberto 
Sem medo e olhando tudo 
Como se nunca tivesse visto 
A vida alguma vez antes.
Parece insensatez
Mas é só aquela coceira
Ou a borboleta do meu estômago 
Que não me deixa pensar em nada
A não ser que já é hora
Cansei, eu quero ir embora.