quinta-feira, 9 de abril de 2009

Abril

Não sei porque mas sempre gostei deste mês. Talvez pela sonoridade da palavra que quando criança era motivo de piadas. Ou porque o mês começa sem se comprometer com a verdade`
Posso enumerar algumas grandes datas nesse período, assim como posso dizer que vários dias não significam nada. Mas, abriu, E é sempre um mês de começo.

Talvez minhas raízes judaicas possam explicar esse sentido. Mesmo que eu as taxe apenas de coincidências. O certo é que desde a minha vinda para esse Egito, Abril é somente ele.

Amanhã é comemorado o Pessach, a páscoa judaica. E hoje me vi um pouco mais inspirada para começar os meus êxodos.
Pela primeira vez em alguns anos, sentei-me em um banco diferente do ônibus. Sobre aquele banco havia uma goteira. Deliciosa metáfora. Uma profecia moderna para noção de prosperidade que uma pequena mudana pode fazer - apesar de que, para ser honesta, eu já estava me irritando com o spingos na cabeça.

Não houveram outras mudanças nessas quase 18horas da minha véspera de libertação, mas de alguma maneira sinto que o primeiro passo foi dado. Sei que meus antepassados caminharam 40 anos. No entanto, é crucial ressaltar que parte da libertação deles consistia em mover-se fisicamente.
A minha prisão, porém, não requer deslocamento. Para que eu saia do meu egito, sei que preciso aprender a diferenciar a memória do saudosismo.
Para quem crê na importância da primeira, sabe que o que é memória é história. É passado. Um acontecimento anterior acabado. Para quem imortaliza a segunda, resta a esperança de emancipar a lembrança e destituí-la do presente posto de supremacia.

Eu ainda busco a minha libertação sem revela-la em uma fuga. Aliás, quando é dit que meus antepassados "fugiram do Egito", doi-me uma dor cheia de redundância. Reduzir esse tip de decisão e de trajetória como fuga, é subestimar a capacidade hmana da superção.
Um e outros medos serão sempre calços para uma cadeira que não quer mover. No entanto, ficar bamba pode revelar novos ângulos de um mesmo lugar ou pode servir para engatar uma nova marcha.

Eu, provavelmente, ainda trilho no insucesso da libertação. O fracasso, porém, só vou saber se tive daqui aos meus 40 anos no deserto.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Desconfio de certas gramas

- Por que as mulheres são tão desconfiadas? - ele perguntou na ânsia de ouvir da minha boca uma explicação plausível. Eu apenas ri.



- Sério. Engraçado, né?! Mulher sempre acha que a gente é garanhão, que é só conversar com uma outra mulher e tá tudo perdido!



Fiz qualquer expressão facial.



- Você também é assim? Desconfiada?



Ri um pouco mais e assenti de leve com a cabeça. Queria concordar com mais veemência, mas tive receio em assumir pra mim mesma a fragilidade.



Ele, então, calou-se. Talvez quisesse contar seu drama. Mas eu não estava à disposição para esclarecer para um homem qualquer o porquê da insegurança feminina.

Veio à mente a reflexão. Se todas as mulheres são desconfiadas, talvez sejam eles, os homens, os responsáveis por tal.

Esses modelos masculinos e femininos injetados pela sociedade são, na verdade, não preconceitos, mas sim desculpa para ações impensadas. Impulsos sem justificativa fundada, baseada em acontecimentos, causas e efeitos.

No entanto, pensei nessa concepção de que meu discurso talvez também fosse algo que fora me dado pronto. Não tive experiências o suficiente nos meus 20 e poucos anos que me fizessem grantir uma análise totalmente particular.

Fiquei mais desconfiada ainda. Até imaginei, por consequência, que aquele homem aparecera para mim com aquele desabafo por intermédio de uma intervenção cósmica.
Há muito que eu não pensava na visão de mim mesma frente ao universo do sexo oposto. Não sei se por descuido, ou por retração.

O que de fato me ocorreu é que aquelas poucas frases proferidas em uma manhã qualquer por um homem desconhecido tem uma verossimilhança indescritível, quase inexistente. Ainda mais hoje, quando a insatisfação parece brotar como erva-daninha na grama, sem nem motivos.

Mas, se a grama do vizinho é mais verde que a minha, eu prefiro agarrar à insconstância de uma ulher. A segura morreu de velha. Mesmo sem a grama limpa.