segunda-feira, 25 de maio de 2009

Glória

Às vezes é preciso contar os louros a sós.
Sem olhar para os lados, subir em palanque ou pedir permissão.
Apenas sentar sozinho, agraciado pelo próprio feito.
Mesmo que ninguém saiba, como se o mundo não ligasse.
O que importa os outros? Pode ser até ruim...
Já ouvi de uns que temem o olhar alheio.
Muitos contam vantagem por aí.
Eu conto pra mim. Não por medo do outro.
Mas por receio de um dia querer contradizer meu feito.

Profanação

Qual a culpa da intensidade?
Em pequenos verbos,
Os gestos contradizem
A amplitude tão vasta
Enquanto não chega a ansiedade.

A calmaria entorta os dedos
Apertos sinto em meus joelhos.
Quando dizem que não há mistério
Apenas umas vindas erradas
Nunca erradicadas pelo medo.

Fosse o mundo pouco profano
Não restaria sequer alma
Pra chamar de amor um erro.
Do vestido recém remendado
Cato o muito que resta de pano.

Esqueci II

Esqueci, nada!
Tudo mentira!
Intriga da minha oposição
Dizendo que é verdade que não lembro.
Só às vezes esqueço
De súbito que não há
Muito pra se lembrar.
E aí espero no pensamento
O esquecimento de uma memória
Que vai ficar
Querendo meus eus, ou não
Nessa mesma história.
Posso até apagar umas partes
Editar umas cenas,
Reclamar do continuísta,
Esse sim esquecido.
Mas quando eu disser que esqueci de verdade,
Desconfie da minha tonalidade.
Perceba nas entrelinhas
Que às vezes são as meias palavras minhas
Que dizem a frase inteira.