sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Mãos do dia

Ele segura a minha a mão como se o mundo fosse acabar.
Não sabe que não precisa apertar com toda a força que faz, mas não quero largar. O meu dia só começa a essa hora. Mesmo depois do café da manhã e de sujar as mãos no jornal.
O dia só amanhece quando ele me dá a mão.
Durante todo um hiato cujas horas correm na contramão, só penso, penso fundo, em acabar a solidão.
Ele vai estar lá ao fim do dia, mas é uma agonia esperar pelo final.
Como crianças a espera do recreio ou milhos de pipoca na panela.
Enquanto passo esse tempo, nesse intervalo quase que de vida, tento viver a minha, sempre uma corrida.
Todos os dias são iguais. Um vício da expectativa, de ao final daquele dia, ele pegar a minha mão e dizer novamente o que se diz por aí de mãos dadas.

Par de sapatos

- Agora vocês vão correr e achar o par do sapato de vocês! 1, 2, 3, valendo!!!

Uma brincadeira de festa infantil. Tudo que eu precisava agora era achar o meu outro pé de sapato. Não só um, pra dizer bem a verdade.
Queria um par de sapatos comigo. Um par de tênis pra correr ao meu lado e pra sair por aí mudando meu rumo a cada esquina.
Não imaginava na minha infância, quando a maior dificuldade era desembaralhar tênis sujos da pilha no chão, que a metáfora seria tão difícil na vida adulta.
Desembaralhar pessoas é bem mais complicado... E puxar o pé errado é sempre muito fácil...
Às vezes na imaginação penso nessas brincadeiras e como seria se eu tivesse que descrever meu sapato, mas não pudesse vê-lo e nem saber como é de verdade.
Eu poderia dizer cores, tamanhos, saltos... Até onde foi feito!
Mas mesmo que eu imaginasse perfeitamente, nunca seria igual ao que tenho nas mãos.
Sapatos e tênis... Um só pro resto da vida?! Mas um só par que servisse pra tudo! E eu não teria mais que imaginar e nem trocar. A validade dependeria do meu cuidado e da minha vontade de caminhar.
Ah, se fossem as pessoas fáceis de calçar. Até pro meu pé tamanho 40 eu teria um par!
Mesmo diferente do pensamento, seria simples o sentimento. Não preciso mais de outros pares e nem da perfeição de um imaginário.
Só precisaria de, com os pés descalços, encontrar pra mim meu par.