- Agora vocês vão correr e achar o par do sapato de vocês! 1, 2, 3, valendo!!!
Uma brincadeira de festa infantil. Tudo que eu precisava agora era achar o meu outro pé de sapato. Não só um, pra dizer bem a verdade.
Queria um par de sapatos comigo. Um par de tênis pra correr ao meu lado e pra sair por aí mudando meu rumo a cada esquina.
Não imaginava na minha infância, quando a maior dificuldade era desembaralhar tênis sujos da pilha no chão, que a metáfora seria tão difícil na vida adulta.
Desembaralhar pessoas é bem mais complicado... E puxar o pé errado é sempre muito fácil...
Às vezes na imaginação penso nessas brincadeiras e como seria se eu tivesse que descrever meu sapato, mas não pudesse vê-lo e nem saber como é de verdade.
Eu poderia dizer cores, tamanhos, saltos... Até onde foi feito!
Mas mesmo que eu imaginasse perfeitamente, nunca seria igual ao que tenho nas mãos.
Sapatos e tênis... Um só pro resto da vida?! Mas um só par que servisse pra tudo! E eu não teria mais que imaginar e nem trocar. A validade dependeria do meu cuidado e da minha vontade de caminhar.
Ah, se fossem as pessoas fáceis de calçar. Até pro meu pé tamanho 40 eu teria um par!
Mesmo diferente do pensamento, seria simples o sentimento. Não preciso mais de outros pares e nem da perfeição de um imaginário.
Só precisaria de, com os pés descalços, encontrar pra mim meu par.
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