Ele se virou e disse:
- Você quer ser minha namorada?
Ela, ainda se espreguiçando, sentiu a pergunta na reverberação de seu bocejo, sem saber distinguir realidade da ilusão auditiva matinal.
- Que? – mais um bocejo.
- É...! Você quer namorar comigo?
- Se eu quero?!
- É!! – ele, começando a refletir sobre os efeitos de sua proposta.
- Hum...Mas, por quê?
- Como assim, por quê?
- Ué, você deve ter algum motivo pra querer isso, assim do nada...
- Eu quero porque estou com vontade! – ele responde em tom de surpresa.
- E você acha que o fato de “ter vontade” – ela fala mimicando as aspas – é o suficiente para que eu aceite?
- Por que não seria?
- Porque uma simples vontade não é bem motiiivo...
- Mas a minha intenção é boa! – ele começa a se arrepender, já um pouco inseguro.
- E desde quando intenção é justificativa? Não sei porque, mas parece que você está me enrolando...Mas eu sou esperta! Não caio nessa, não!
- Mas, meu amor...
- Meu amor, minha flor, meu benzinho! Pode me chamar como quiser! Que pretensão, a sua!
Ela continua:
- Aliás, do que você quiser, não! Ou então você vai ficar achando que é assim, fácil! Tudo na hora que você quer. Eu achei que a educação que teus pais te deram fosse melhor... Mas você ta me saindo um pretensioso e egocêntrico. Agora, que te bateu a vontade de namorar, você decide que nós vamos namorar. Como se a minha opinião não tivesse o menor valor. Nããão... Ela vai aceitar! Vai aceitar porque eu disse! Não é isso que você ta pensando??
- Não, não é nada disso...
- Ah! Então o que foi, agora? Vai desistir? Vai dizer que se arrependeu? Que não quer mais? Agora que já brincou com meus sentimentos?
- Eu quero, lógico... – sua voz já perdeu a força e ele quase pensa em concordar com ela para acabar a discussão de um relacionamento que ela ainda não aceitou ter com ele.
- Hum, você queria há cinco minutos. Mas com essa voz frouxa você acha que vou acreditar?
- Mas essa voz é porque você está dificultando! – agora em tom agressivo.
- Olha a agressividade, hein! Não entendo você, sabia?! Se eu aceitasse logo de cara você ia achar que sou fácil e não ia me dar valor. Não que você me dê algum, mas... E como eu to sendo difícil você começa a amolecer, quase desistindo! Pode assumir! Agora eu acabei com a sua tentativa de ser ma-lan-dro.
- Mas ninguém falou em desistir! Você ta maluca??
- Ahn! Bela pergunta! Agora eu sou a LOUCA!
- Mas eu não falei que você é louca! Perguntei se está maluca!!
- Pergunta retórica não conta! Esqueceu a regra máxima dos relacionamentos?
- Mas a gente não tem um relacionamento!
- Agora você volta atrás...
- Olha, se você não quer...
Ela interrompe:
- E quem disse que eu não quero? Eu estou entendendo seu truque. Não tente me fazer de boba! Você me pede em namoro enquanto estou dormindo...
- Você já estava acordada!
- Posso continuar?? Obrigada. Eu estava acordando. Acordaaando. Sonolenta ainda, saindo do meu REM, quando você me obrigou a responder a pergunta que pode mudar a minha vida completamente só porque estava com vontade!
- É...
- E tem mais! Ainda fica reclamando dizendo que sou louca!
- Mas, meu amor
- Meu benzinho, minha flor! O que é??
- Eu, eu...
- Não gagueja e fala logo de uma vez!
- É que eu... Te amo!
Ela fica muda. A face enrubesce. A emoção e a vergonha tomam posse do seu corpo.
- Você, o quê?
- Eu te amo! Te amo, sim!
- Mas isso muda tudo! Agora eu preciso de tempo pra pensar...Me dê uns minutos...
Ela põe ele para fora do quarto, deita na cama, rola, abraça o travesseiro...
Se levanta, abre a porta, o chama e, cheia de ternura, diz:
- Pegue suas coisas.
Ele o faz sorridente e aliviado, imaginando a resposta na doçura da voz dela.
Ela termina:
- Está tudo acabado entre nós.
Ela fecha a porta, se joga e se deleita na cama novamente.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Cortando a faixa
- É só pra começar... Pra você ter visibilidade... Samara, todo mundo tem blog!! - ele falou com muita veemência, muita segurança, apesar da pouca persuasão.
Eu fiz que "nem sei". Não tinha argumentos pra defender o movimento dos sem-blog...
Nem tinha paciência...
Mas, ainda que um tanto arredia e sem querer assumir que concordei, hoje inauguro essa tal página.
Não que meu amigo tenha me convencido...
Apenas percebi que, se escrever é ao que realmente me predestino, preciso primeiramente ignorar certos caprichos.
Ta ái, Toddy!
Beijos
Eu fiz que "nem sei". Não tinha argumentos pra defender o movimento dos sem-blog...
Nem tinha paciência...
Mas, ainda que um tanto arredia e sem querer assumir que concordei, hoje inauguro essa tal página.
Não que meu amigo tenha me convencido...
Apenas percebi que, se escrever é ao que realmente me predestino, preciso primeiramente ignorar certos caprichos.
Ta ái, Toddy!
Beijos
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