quarta-feira, 9 de julho de 2008

Coincidências

- Não quero mais falar com você.

Foi essa a última coisa que ouvi da boca dele.
Logo após ele ter dito:

- Não me procure mais.

Eu acatei seu pedido, embora a princípio tenha relutado, sabendo da dificuldade que seria não pensar mais nele. Não foi fácil. Hoje, paro nas mesmas esquinas, olho pro mesmos cantos. Tudo que antes era iluminado, tomado por uma química de física imaterial, com holofotes, palcos, cenário e destaque para nós, astros, virou apenas prosa de um autor qualquer.

- É assim que você quer?

- É – respondeu ele com veemência política e agressividade superior à de qualquer boxeador.

Ok.
Dali em diante ia ser estranho. Cada dia mais confuso, porém menos palpável o envolvimento entre nós. A distância tomava quilômetros. Em meio às novidades da rotina, eu ia apagando de vez os resquícios. Ao lembrar de tudo, tentava não lembrar nada de bom. Substituía os prazeres da melancolia pelo sofrimento da nostalgia. A dor até vinha, mas com cara de memória, sem caráter presencial. Outro dia, no entanto, fomos ainda mais estranhos. Depois de tudo e tanto, foi como se nos olhássemos pela primeira vez. Como dois desconhecidos a ambientar o mesmo espaço, forçados a conviver por culpa de coincidências abstratas.

- Quer tomar um chopp? – uma coincidência convidou-me.

- Tenho planos, obrigada.

- Planos... – repetiu ele, sem me deixar perceber se a retórica era de curiosidade ou ironia.

Planos. Não havia plano algum. O único que houve em algum momento foi o de esquecer de vez que existimos juntos por alguns. O plano ficara pra trás. Acoplado aos ódios e às repulsas. As verdades eram tão falsas que desabaram por inteiro.

- Vocês nem se cumprimentaram...Eu os apresento. – algumas coincidências poderiam ser mais abstratas...

- Oi, prazer. – ele disse

Gelei. Ele fingiu não me conhecer. Maldita falsidade! O que falar??? Nem sabia! Arrepios começaram a me consumir por inteiro. Ai meu deus! O tempo ta passando e eu ainda não respondi nada.Ai, ai ai!! A assim, meio de supetão, acabei sendo um pouco mal-educada:

- Babaca.