Quando olhou para o relógio, se deu conta. Ainda precisaria esperar muito. Nem contou os minutos para que sua agonia não ficasse mais expressiva. A sua hora iria chegar, ele sabia. Mas a vontade era tanta que tinha até medo do que poderia acontecer. Colocou os fones nos ouvidos e buscou uma estação qualquer. Apenas umas músicas azuis, uns falatórios de quem não tem o que dizer e uma reportagem sobre um acidente de trânsito.
Nevava pela primeira vez em 63 anos. Ele, com 29, não tinha tido ainda o desprazer de um inverno como aquele. No frio, sua espera tornava-se mais insuportável e, mesmo de ceroulas e luvas, não conseguia conservar o seu calor em seu corpo. Até porque, o pouco que tinha estava concentrado por seus sentimentos.
Mais cedo, naquele dia, pensou sobre sua vida. Faria 30 anos em breve e não queria transportar para a nova casa decimal os receios de sua juventude.
Tateou os blosos à procura e encontrou um único charuto. Puxou e acendeu como quem pede calma à paciência. Tudo estava por vir.
O entardecer previa que a noite adormeceria mais cedo. Ele, ainda sem coragem para consultar o relógio outra vez, sentou-se na calçada seca mais próxima. Subiu três degraus e achou-se na entrada do centro cultural. Dali ele poderia ver o momento chegar.
A cidade parecia parada. Aquele clima não lhe pertencia. Era como se um intruso, um vírus, um niño tivesse se instalado sem pedir licença e sentado ao seu lado.
Um tempo depois ouviu um barulhos. Na sua calçada já havia um homem e um grupo de amigos animados. O homem levantou-se e partiu. Deviaele partir também e desistir da espera? Aquele frio o expulsava. Mas como poderia abandona sua maior expectativa?
E então, no meio de seu devaneio, ouviu uma vozlhe chamar. Apagou o charuto, levantou-se e partiu. Sem mais esperar.
terça-feira, 10 de março de 2009
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