Requentou o café da noite anterior. Não tinha muitas frescuras. Da geladeira, pegou um sanduíche e uma maçã, além de uma garrafa d'água.
Os dias não tem sido bons. Na época de seus pais, a fartura não era excessão. Agora, se conseguisse um peixe para o jantar já se davapor satisfeito.
Às 6h, seu companheiro chegou de barco à sua casa. Havia meses que o seu estava quebrado. Mas, sem uma boa pescaria, por enquanto tinha apenas metade do dinheiro necessário para consertá-lo.
Colocou suas coisas no barco, pegou as iscas, enterrou-as no isopor repleto de gelo. Seu amigo haia deixado tudo preparado, pensou.
Umas poucas remadas e eles já estavam longe de casa.
Aquela lagoa lhe parecia maior. Mas, hoje, talvez, pela quantidade de poeira elixo, ou apenas pela recordação infantil, havia menos água por ali. Remaram um pouco mais. De um lado, um, e do outro, o outro, esticaram a rede, tantas vezes remendada, e lançaram-na. Como em uma dança, em um teatro mímico, nenhuma palavra foi proferida. Olharam juntos para o afundar das cordas, contaam o tempo em silêncio:
"1, 2, 3, 4, 5"
Puxaram a rede para a superfície. Umas algas de água doce presas à trama nem lhes enganaram. Nenhum peixe. De costume.
Retiraram-nas e lançaram a rede novamente à submersão.
...
A manhã foi passando nesse tão usual exercício. E a inexistência de resultados às vezes o fazia crer que o ofício de pescador era coisa do passado. Assim como outras profissões haviam sido extintas, os pescadores, e os peixes da lagoa, também estavam.
Passav das 12h quando decidiram almoçar. Ancoraram o pequeno barco sob uma árvore e comeram suas provisões. Lembrou-se do tempo de seu pais, quando comia peixes frescos, recém assados sob aquela mesma sombra.
- É... Os tempos eram bons... - disse o amigo, assustando-o com a sua telepatia inesperada.
Percebeu-se outra vez espantado. Seus olhos estavam cheios d'água. Mais água do que jamais lhe caíra antes.
Telepatia era outra coisa que não havia por ali.
Enxugou o rosto com vergonha e engoliu o que restava de comida em suas mãos.
Pescar era um trabalho para os fortes, os pacientes. Os saudosistas?! Esses é que ficassem à beira contemplando uma lagoa que brilhara sob o sol de outras tardes.
Enquanto o sol se punha, os remadores treinavam, corredores se aglomeravam na ciclovia e ele e seu amigo lançavam a rede em uma nova tentativa.
O mesmo efeito para o mesmo ritual.
E, então, ao fnal de uma jornada de poucos metros cúbicos e muito silêncio, percebeu que nem todos os dias lhe trazem peixes. Retornaria à sua casa.
Ao amigo, agradeceu pela companhia sem expressar som. Nada mais era necessário dizer essa noite.
Amanhã, quem sabe, a maré encherá a lagoa. E os peixes, talvez, venham banhar-se em sua rede.
Po, Samara! Quanta tristeza! Essa Samara eu não conhecia, hein? Parabéns! Ficou demais!
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