-
Talvez a gente não tenha nada a ver.
Ela
começou assim o café da manhã. Depois de uma noite incrível de sexo, depois de
eu ter sido arrastado pra um dos seus mil casamentos.
-
ovo mexido, quer?
Ela
continuou a falar naturalmente, quase como se eu não tivesse escutado a sua
primeira sentença.
Sentença.
Palavra curiosa pro momento. Sentença é frase, ne? Mas é veredicto.
-
eu fiz meio mole, meio duro. Como você gosta!
Ah,
ela conhece meus ovos! Perdão com o trocadilho. Mas os ovos que ela me faz são
os melhores! Não serve pra nada além disso na cozinha, mas os ovos...
Eu
vou comer antes de perguntar qualquer coisa.
-
Mas então. Não sei se você ouviu...
Ouvi.
Mas passa o sal antes?
-
Nós não temos nada a ver.
Antes
era "talvez". Agora ela parece falar com alguma certeza.
-
Aquele dia no bar, ou no outro lá em Petrópolis... Sabe. Acho que tá
evidente... Ontem também...
Peraí!
Ontem?!?! Chegamos bêbados. Eu de terno grafite como ela gosta, ela de vestido
vermelho como eu gosto. Chegamos no apê, comi ela de pé, de lado e deitada de
bruços. Como assim ontem tá nessa lista?
-
Tá... O sexo foi incrível. O sexo com você é sempre incrível. E é por isso
mesmo que
Parei
de escutar. Meu pau ficou duro na hora e eu só pensava em parar os ovos dela
pra ela sentir os meu ovos outra vez. Mas ela cortou meu tesão.
-
Sério. Foi mal, sabe. Mas é que, é que eu te curto demais. E acho que não vai
dar mais.
No
caso não dar mais você diz que você não vai mesmo dar mais? Ai, merda.
-
Não posso. Não nasci pra isso. Defeito congênito, de fábrica, sei lá. Difícil
isso, sabe.
Não.
Não sei. Já posso falar agora?
-
Eu penso em você e me vem um monte de coisa maravilhosa. E é exatamente esse o
problema! Não vai rolar, Fabio. Pra mim acabou.
Ela
levantou e colocou o salto antes de fechar o vestido. Ajudei com o zíper,
agarrei ela por trás e enfiei meu nariz na sua nuca. Não tinha mais o que
fazer. Torci pra que isso fosse apenas uma fuga. Não disse nada.
Ela
escapou das minhas mãos. Bateu a porta.
Chorei.
O
problema não era ela, era eu.
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